O polêmico Akachan Post (local para deixar recém-nascidos), criado há dez anos em um hospital de Kumamoto, já recebeu um pouco mais de uma centena de bebês. Entre 2007 e março de 2016, 125 bebês foram deixados no local.
Ás vésperas do 10º aniversário do Akachan Post (10 de maio), Taiji Hasuda, presidente do Hospital Jikei, falou em uma entrevista coletiva. Hasuda enfatizou a importância desse tipo de programa devido ao seu papel de salvar a vida das crianças.
Akachan Post
O nome original do Akachan Post (赤ちゃんポスト) é “Kounotori no Yurikago” (こうのとりのゆりかご), que significa “Berço da Cegonha“. Trata-se de um compartimento instalado para acolher os bebês que são deixados anonimamente, através de uma janela que se abre para um berço. Quando a cabine é aberta, um alarme soa avisando as enfermeiras, que ficam de plantão 24 horas. Junto com o bebê, a mãe pode deixar uma carta.
O Akachan Post foi criado por iniciativa do Hospital Jikei, na cidade de Kumamoto (província homônima). Ele foi introduzido oficialmente no dia 10 de maio de 2007. A criação baseou-se em sistemas semelhantes de outros países como a Alemanha. Esta é a única instalação deste tipo no Japão.
O hospital concebeu este programa a fim de oferecer uma opção aos pais que sentem que não podem criar seus filhos. Os principais objetivos do programa são evitar o assassinato, a violência, a pobreza e o abandono da criação, preservando a vida do bebê.
O lançamento do projeto, no entanto, gerou controvérsias. Defensores chamaram-no de “último recurso” para salvar vidas. Enquanto opositores disseram que este sistema incentivaria os pais irresponsáveis a abandonar seus filhos.
Na época, o governo também distanciou-se do programa. “Sinto forte resistência em criar um lugar onde as pessoas possam deixar as crianças anonimamente”, disse o primeiro-ministro Shinzo Abe.
Serviço de consultoria
O Hospital Jikei também é conhecido por seus serviços de consultoria sobre gravidez e parto. Se a mãe quiser conversar ou se consultar com alguém, basta tocar o interfone para ser atendida. A finalidade do projeto não é simplesmente acolher o bebê que a mãe não pode criar ou rejeita. Também cumpre o papel de ouvi-la e fazer o aconselhamento. No ano fiscal de 2016, o centro de atendimento recebeu 6.565 consultas.
Dados do Akachan Post
De acordo com o relatório do governo da cidade de Kumamoto que analisou o programa, pelo menos 46% dos 125 bebês não nasceram em uma instituição hospitalar. Sabe-se que, 53 mulheres deram à luz em casa e quatro, dentro de carros.
As dificuldades econômicas e a incapacidade de consultar os familiares sobre a gravidez estavam entre as razões citadas para dar à luz em lugares que não sejam hospitais.
Apesar do Akachan Post estar instalado no hospital em Kumamoto, a maioria das mães dos bebês vinham de várias outras regiões do Japão. Inclusive, uma criança veio de outro país.
Dos 125 bebês, 104 tinham menos de 1 mês, 14 com menos de 1 ano e 7 com mais de 1 ano. Dentre eles, 11 tinham algum tipo de deficiência.
Em relação aos motivos pelos quais os pais deixaram seus filhos, a dificuldade econômica (32 casos) e ser mãe solteira (27 casos) foram as principais causas. Quanto a idade das mães, a maioria estava na faixa dos 20 anos (36%) e 30 anos (22%).
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Desde março de 2014, 30 crianças foram enviadas para orfanatos e outras instalações, 29 foram adotadas, 19 deixadas para pais de criação e 18 retornaram para suas famílias. Outras cinco foram classificadas como “outros casos”, segundo a análise de 101 crianças deixadas no Akachan Post.
Outras iniciativas
Um grupo sem fins lucrativos tentou criar um segundo Berço da Cegonha em um centro de maternidade em Kobe. Porém, como a instituição médica não foi capaz de garantir um médico de plantão em todos os horários, o plano foi cancelado.
No entanto, o grupo, chamado de “konotori no yurikago in Kansai“, planeja explorar outras maneiras de salvar a vida de bebês não desejados, como criar um Berço da Cegonha em outros hospitais ou cooperar com uma associação que apoia a adoção de crianças.
Fonte: Mainichi
Imagem destacada: Pixabay