No Japão, o budismo e o xintoísmo são as duas principais religiões. No passado, ambas as tradições sofreram indireta pressão para se fundirem. Devido a uma lei de 1638, as famílias japonesas foram obrigadas a se registrarem em templos budistas. Com isso, muitos passaram a manter dois oratórios domésticos em suas casas: um butsudan (budista) e um kamidana (xintoísta). Com o tempo, ambas as tradições fundiram-se de tal forma que sentimos até um pouco de dificuldade para diferenciar uma da outra. Um exemplo são os templos e santuários. Você sabe distingui-los corretamente?
Templos e santuários estão entre os tipos de estruturas religiosas mais populares do Japão. Por isso, se você estiver visitando o país, com certeza irá a, pelo menos, um deles. Diante disso, é importante que você saiba algumas diferenças entre eles e que conheça algumas práticas específicas de cada um para que você tenha uma experiência agradável. Confira abaixo 6 principais diferenças entre templos e santuários.
1 – Religião
Os templos representam o budismo, que é originário da Índia e da China. As suas construções possuem a finalidade de consagrar o Buddha (também chamado de Hotokesama – 仏様) ou outras imagens do budismo.
Os santuários estão relacionados ao xintoísmo, religião nativa do Japão. Por este motivo, o xintoísmo e seus rituais estão muito interligados com a história e com o folclore do Japão. A religião caracteriza-se pelo culto à natureza, aos ancestrais e pelo seu politeísmo (crença em vários deuses). As suas construções geralmente são dedicadas a uma divindade.
2 – Nomenclatura
Em japonês, um templo budista é chamado de Otera (お寺). Normalmente, o nome do templo é acompanhado pelo sufixo “dera” (exemplo: Templo Kiyomizu-dera) ou “ji” (exemplo: Templo Toda-ji).
Já, um santuário xintoísta é denominado Jinja (神社). O nome dos santuários são acompanhados pela palavra “jinja“. E, quando se trata de um santuário relacionado à Família Imperial Japonesa, o nome é complementado pelo termo “jingu” (exemplos: Ise Jingu e Meiji Jingu).
3 – Aparência
A arquitetura do templo tende a refletir o pensamento budista. Isto significa que os templos, normalmente, são simples, sóbrios, modestos e reservados. Geralmente, o templo abriga um pagode, estrutura semelhante a uma torre de vários níveis. Outra característica interessante de alguns templos budistas é o Manji, um símbolo da suástica budista.
A maioria dos templos budistas possuem portões de entrada. Cada um deles tem um nome seguido do sufixo “mon“. O templo Sensoji em Asakusa, Tokyo, por exemplo, possui um famoso portão chamado Kaminari-mon.
Já, santuários tendem a ter projetos coloridos, gloriosos e imponentes. Uma característica famosa dos santuários é o seu Torii, um portal xintoísta na entrada. O portão Torii simboliza a entrada do mundo real para o reino espiritual. Antes de passar por este portal, deve-se curvar levemente. Outro detalhe presente em muitos santuários são os ornamentos chamados de Shimenawa que são cordas de palha de arroz trançadas e enfeitadas com dobraduras de papel em forma de raio.
4 – Rituais
Existe um ritual em comum entre as duas religiões. A conduta mais importante e frequente é o ojigi, que significa “curvar-se”.
Ao chegar em um templo budista, você pode ser obrigado a tirar os sapatos antes de entrar em determinadas áreas. Alguns locais fornecem prateleiras para armazenamento dos sapatos na entrada, enquanto outros, fornecem um saco plástico para que você carregue o calçado.
O caminho entre o Torii e o santuário é chamado de sando (caminho de aproximação). Você deve evitar andar pelo centro dessa estrada, que é destinado aos deuses. Em vez disso, caminhe por algum dos lados da passagem.
5- Sequência dos rituais
Templo:
1- Curvar-se logo antes do portão do templo.
2- Lave suas mãos e boca no Temizuya (fonte de purificação).
Primeiramente, você deve colher um pouco de água na concha com a mão direita e limpar a mão esquerda com essa água. Repita o processo, trocando as mãos. Em seguida, recolha mais um pouco de água, derrame na sua mão esquerda e coloque-a sobre a boca para limpá-la. Depois disso, lave a mão esquerda e o punho. Isso serve para purificar o corpo antes de se aproximar do templo principal.
3- Toque na fumaça do incenso.
Acredita-se que a fumaça criada pela queima do incenso tem poder curativo. Por esta razão, é comum vermos pessoas com algum problema de saúde ou com algum tipo de dor, abanar as mãos para que a fumaça se aproxime da região afetada.
4- Ore.
Em primeiro lugar, fique na fila, se tiver. Chegando a sua vez, curve-se e deixe o dinheiro (não importa o valor) na caixa de ofertório antes de rezar com as mãos unidas.
Santuário:
A maneira de cultuar em um santuário é bastante semelhante à forma como é realizada em um templo. No entanto, o momento logo antes da oração é um pouco diferente. Primeiramente, igual ao ritual em templos, curve-se e deixe o dinheiro (não importa o valor) na caixa de ofertório. Já as condutas seguintes, fazem parte de uma prática realizada especificamente em um santuário:
1- Toque o sino, se tiver.
2- Curve-se duas vezes.
3- Bata palmas delicadamente duas vezes.
4- Curve-se novamente.
5- Ore.
6 – Monges budistas e sacerdotes xintoístas
Outra maneira de distinguir os templos e os santuários é olhando para os monges e os sacerdotes. Os monges budistas vestem robes simples e sóbrios.
Já, os sacerdotes xintoístas vestem roupas mais chamativas.
Essas foram algumas das principais diferenças entre templos e santuários. É claro que existem muitos mais detalhes sobre este assunto. Mas, agora você pode aproveitar melhor o seu passeio conhecendo esses rituais.
Fonte: medium, culturajaponesa, wasa-bi, jpninfo, Japan Talk