Esse fato aconteceu comigo, com apenas um ano de Japão. Foi o momento que me senti o rei e também um zé ninguém.
Um dia chegou em minha casa uma carta da concessionária Honda, solicitando o recall do airbag do modelo que possuo. Para isso, deveria ligar e realizar um agendamento, que fiz sem demora.
O dia quando fui estava uma chuva chata, nem tão forte, mas o suficiente para encharcar em questão de segundos. Um funcionário, de terno e gravata, avistou que eu estava dando seta para entrar no estabelecimento, foi-me guiar na entrada do estacionamento (não coberto). Ele me direcionou até uma vaga e ficou aguardando ao lado do carro – segurando seu guarda-chuvas – até que eu saísse.
Quando saí, ele me deu seu guarda-chuvas (passando ele a se molhar todo) e disse, com toda simpatia, para eu entrar na loja enquanto ele verificaria algumas coisas no carro.
Na loja, me entregaram um menu e pediram para que eu escolhesse uma bebida e também me informaram que iria demorar alguns minutos.
Não mais de vinte minutos, o mecânico que fez o recall veio explicar algumas coisas (que na verdade não entendi muito) e também para finalizar todo o procedimento. Em seguida, o engravatado veio, ainda um tanto molhado, me pediu para assinar uns papéis, me agradeceu várias vezes e me conduziu até meu carro, que já estava posicionado na entrada da loja, ligado, e correu com seu guarda-chuvas antes de mim para me proteger.
Como se não bastasse, ele pediu, gentilmente, para que os carros na rua parassem para que eu pudesse sair. Além disso, ele foi para o meio da rua, levantou as mãos fazendo o sinal.
Senhoras e senhores, quando eu me distanciava da loja, ele voltou para calçada e ficou curvado (Ojigi) – aquele gesto de se abaixar dos japoneses – até que eu sumisse. Vi tudo pelo retrovisor.
Depois disso, muito constrangido, pensei: “Obrigado por tudo, mas sou apenas um jovem trabaiadô”.
Detalhe, quando cheguei em casa, percebi que os tapetes foram todos aspirados.
O que aprendi?
Que o japonês é muito educado todo mundo já sabe, o que não sabe é que essa formalidade abrange diversas áreas que estão inter-relacionadas, desde o passado até hoje.
Existe um fator histórico da cultura japonesa que é a “perfeição”. Tudo deve estar do jeito como foi planejado, sem mais nem menos, agradável aos sentidos humanos. Se não houver perfeição, deve-se chegar muito próximo dela. Logo, tudo o que faz parte do seu produto, deve-se ter a melhor qualidade, e para isso, há um padrão determinado.
E a qualidade não fica apenas nisso. Esse padrão deve ser completo. Portanto, eles prezam pela execução de um ótimo serviço para que seus clientes sempre retornem e, assim, manter a vida dos negócios em pleno funcionamento e crescimento.
Para tudo isso, as empresas fornecem treinamentos aos seus funcionários, exigem padrões de qualidade dentro das fábricas e buscam, na medida das possibilidades humanas, oferecer quantidade e qualidade prontos para qualquer demanda.
Essa é a cultura do Japão: antigamente, atingir a perfeição para ter um nome honrado, e hoje, utilizando-se disso, para também ter sucesso nos negócios.