Premium Friday é uma campanha de nível nacional lançada pelo governo japonês, estimulando todos os trabalhadores a sair mais cedo na última sexta feira do mês.
Morte por trabalho excessivo
O Japão tem o maior índice de karoshi ou kuroshi (overwork) no mundo, não é incomum ver casos de suicídio relacionado ao trabalho excessivo.
Uma notícia que ganhou destaque na mídia internacional, foi da jovem de 24 anos, Matsuri Takahashi, que cometeu suicídio na empresa onde trabalhava.
Matsuri chegou a fazer mais de 100 horas extras no mês, estava no limite físico e psicológico. O caso chocou e o presidente da agência de publicidade onde ela trabalhava renunciou ao cargo após o caso, além de sua família receber indenização.
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Como Funciona
O objetivo da Premium Friday é fazer com que os profissionais tenham uma espécie de feriado no mês para aproveitar melhor o tempo com família e amigos, e também, aquecer a economia.
No Japão, é considerado normal, e até esperado da sociedade, o profissional se dedicar intensamente ao trabalho. Muitos profissionais não se sentem confortáveis em ir embora antes de seus superiores e colegas.
A campanha tenta mudar este aspecto e sugere que as empresas do país incentivem seus funcionários a encerrar o expediente mais cedo uma vez ao mês, porém, a adesão da campanha é facultativa.
Para estimular a adesão ao Premium Friday, o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, anunciou que utilizará o momento para se dedicar a meditação em templos e sairá mais cedo do trabalho.
Campanha teve baixa popularidade
Poucas empresas aderiram e as pequenas e médias empresas, não conseguiram se dar ao luxo de aderir a Premium Friday.
Apesar das companhias do país serem muito competitivas e exigirem muito dos funcionários, a questão do karoshi está para além das empresas, está enraizada na cultura nipônica.
Mesmo entre os empregadores que incentivaram a campanha, cerca de apenas 10,5% dos funcionários aceitam e vão embora às 15hs do trabalho na última sexta-feira do mês.
Maki Suzuki e suas colegas, funcionarias da empresa Suntory, geralmente trabalham até mais tarde e resistiram a tentação de saírem mais cedo, “é uma boa oportunidade para planejar algo que não fazemos geralmente”, diz Suzuki.
O trabalho no Japão é levado muito a sério, apesar da possibilidade de ter uma tarde livre no mês, a rígida educação e cultura japonesa os impede, além disso, esse ato pode gerar comentários negativos para a pessoa no ambiente de trabalho.
Não houve aumento na economia
Com a Premium Friday, a expectativa era movimentar cerca de 63,5 bilhões de ienes por ano, mas com a baixa popularidade e adesão das empresas e profissionais fizeram essa expectativa desmoronar.
Na esperança de aumentarem as vendas, algumas lojas anunciaram descontos em seus produtos e serviços no período vespertino.
Para especialistas em economia, diminuir a carga horária pode influenciar diretamente no salário das pessoas, então, não só a baixa adesão se torna um problema, mas com salários menores o consumo naturalmente cai.
Uma mudança a longo prazo
“O trabalho excessivo se tornou um grande problema” afirma Etsuko Tsugihara, chefe executivo de relações públicas da Sunny Side Up, “antes da campanha do governo já pensávamos em um método próprio para lidar com a questão, a Premium Friday foi bem aceita por nós.”
Masanao Ueda, oficial sênior da Keidanren diz: “Esperamos impulsionar uma mudança em nosso estilo de vida, o modo que trabalhamos e pensamos.” Após entrevistar cerca de 1300 profissionais do setor, ele conclui, “É difícil para trabalhadores japoneses conseguirem um dia de folga, então, precisamos criar as condições para que todos consigam um feriado.
Mudar uma cultura milenar em pouco tempo é praticamente impossível, em um país onde os trabalhadores dispõe de cerca de 9 dias de folgas ao ano, a Premium Friday ainda é tímida.
Mudar a maneira que os japoneses têm com o trabalho exigirá um esforço do governo, das empresas e da sociedade para vencer a morte por trabalho excessivo e aumentar a qualidade de vida da população.
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