Há poucos dias – ou melhor, todos os dias – vejo japoneses de todas as idades, claro que, entre a maioria, jovens e adolescentes, que andam por aí olhando para o smartphone, sem se dar conta que existe um mundo acontecendo ao seu redor (e que esse mundo pode derrubá-lo literalmente).
Particularmente, minha observação sobre isso abrange a vários problemas agravantes nessa sociedade. Dentre alguns que mais ressaltam, estão: insociabilidade, acidentes físicos e problemas psicológicos diversos.
Histórico japonês
O Japão é um pioneiro na evolução da tecnologia mobile. Nos anos de 1990, por exemplo, o celular já era algo comum entre os civis. Em meados desse mesmo período, o País já tinha desenvolvido aparelhos pequenos e muito funcionais, enquanto os EUA e outros países desenvolvidos ainda engatinhavam para atingir o mesmo nível.
Nessa mesma época, os jovens já dispunham de seus aparelhos e, não pense que era aquele “tijolo” preto que conhecemos no Brasil, mas produtos altamente customizáveis e coloridos (além das telas coloridas). Essas características eram um chamariz de marketing para os jovens, para cada um ter o seu.
Em finados desse período, entre 1998 e 1999, era o que acontecia, estavam todos eles lá, teclando e tirando fotos e colocando penduricalhos meigos; mas além disso, o agravante problema: a cabeça baixa e os olhos fitos em seus aparelhos.
Nos dias atuais
O cenário não muda, mas como disse, tem sido um agravante. Quando você entra no trem, todos estão de cabeça baixa e olhando para o “bendito” (ou maldito), atualmente chamado de smartphone ou iPhone (iPhone e smartphone no Japão são considerados diferentes, embora semanticamente ambos sejam smartphones – celulares inteligentes). Geralmente estão conversando pelo Line (um aplicativo parecido com o WhatsApp no Brasil, mas mais difundido por aqui) ou jogando joguinhos.
Os problemas
Desde 2010 muitas mídias têm destacado os problemas que os aparelhos inteligentes têm causado e podem causar às pessoas. Desde artigos científicos até livros e inúmeros artigos. Não se trata do aparelho em si, mas respectivamente sua forma de uso.
Falta de sociabilidade e incômodo no convívio social
Na mídia japonesa, costumeiramente surgem notícias sobre pessoas que tomam atitudes estranhas: “homem larga esposa porque entendeu que todas as mulheres são insensíveis”, “fulano deixou de se relacionar com pessoas porque viver com robô era mais fácil”, “robô permite ser o(a) companheiro(a) fiel para vida toda”, “robô sexual” etc.
Essas informações estão direta e indiretamente ligadas aos problemas causados pela falta de contato humano. O japonês em si já possui a cultura da harmonia, como já destaquei em post anterior, que refere-se também ao não incomodar o próximo, que acarreta totalmente na solidão.
Acidentes físicos
Por conta dessa “bitolação” (não encontro outra palavra mais polida), já vi gente caindo da escada, quase caindo no trilho dos trens (sim, acreditem, as empresas de transporte ferroviário avisam para não andar e digitar nas plataformas para evitar acidentes, além de cartazes).
Pessoas também se trombam uma nas outras no meio da rua, causando um grande desconforto para elas mesmas e para quem está vendo.
Algumas notícias da mídia internacional japonesa reportaram também agressões a indivíduos que têm esse costume do andar olhando para o smartphone. Geralmente, os agressores dão um “tapão” abaixo ou no na frente do aparelho ou também trombam de propósito.
Problemas psicológicos
Ataques de ansiedade e depressão são os mais abordados como resultados para o vício em smartphones.
É difícil constatar com precisão o que acontece no cérebro humano, mas de acordo com o comportamento das pessoas, estudos têm indicado que, principalmente as redes sociais, são os causadores desses sintomas. Já a falta de sociabilidade é consequência física do não contato humano, uma vez que o indivíduo enclausura-se em seu próprio mundo digital, seja através dos intermináveis games ou necessidade de atualização e verificação de seus posts e perfis.
Por fim
Sei que no Brasil, andar e ficar olhando para o smartphone não é interessante em nenhum aspecto. Basicamente porque a pessoa pode ser roubada em fração de segundos. Mas olhando para o lado bom, o brasileiro é uma das nacionalidades mais sociais e amigáveis do mundo. Portanto, bitolação nisso é algo que sua própria cultura não lhe permite, pois ele precisa se relacionar. Isso é fato e muito bom. Continuemos assim.