Sumiteru Taniguchi, sobrevivente do bombardeio atômico de Nagasaki, conhecido por ter sofrido queimaduras severas nas costas e por ter se tornado um dos principais defensores do desarmamento nuclear, morreu no dia 30 de agosto de 2017, em Nagasaki.
Superando uma vida de dor debilitante e doenças relacionadas à radiação, ele viveu até os 88 anos. A causa da morte foi câncer de papila duodenal, de acordo com a organização Nihon Hidankyō.
Vida de Sumiteru Taniguchi
Sumiteru Taniguchi nasceu em 26 de janeiro de 1929, em Fukuoka. De acordo com o jornal Nagasaki Shimbun, sua mãe morreu quando tinha apenas 18 meses de idade e seu pai, um operador de trem, foi enviado para a Manchúria durante a guerra. Com sua irmã mais velha e seu irmão, Taniguchi foi morar em Nagasaki com os avós maternos.
Depois de se formar no Ensino Médio, ele foi trabalhar em uma agência de correios. A esposa de Taniguchi, Eiko, morreu em 2016. Ele era assistido por sua filha, Sumie Terasaka, e seu filho, Hideo, bem como quatro netos e dois bisnetos.
Taniguchi tornou-se presidente do Nagasaki Council of A-Bomb Sufferers (Conselho das Vítimas da Bomba Atômica de Nagasaki), em 2006. Também foi representante do Nihon Hidankyō (The Japan Confederation of A- and H-Bomb Sufferers Organization), que representa os sobreviventes das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Além disso, o ativista chegou a ser considerado um candidato ao prêmio Nobel da Paz.
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Bomba atômica de Nagasaki em 1945
Os Estados Unidos lançaram uma bomba atômica em Nagasaki, no dia 9 de agosto de 1945. Três dias antes, Hiroshima foi devastada no primeiro ataque nuclear da história. Aproximadamente 70 mil pessoas morreram em Nagasaki e 140 mil, em Hiroshima. Seis dias após o segundo bombardeio, o Japão se rendeu, terminando a Segunda Guerra Mundial.
No dia do bombardeio em Nagasaki, Taniguchi, então com 16 anos, entregava cartas de bicicleta, a cerca de 1,8 quilômetro de distância do epicentro da explosão. O carteiro sofreu graves queimaduras nas costas e no braço esquerdo. Além disso, o impacto da bomba fez com que suas costelas se movessem e pressionassem o pulmão.
“De repente, depois de ver uma luz como um arco-íris nas minhas costas, fui empurrado por uma forte explosão para o chão”, disse Taniguchi em 2015, durante a cerimônia pelo 70º aniversário do ataque que recordava o bombardeio.
“Quando acordei, a pele do meu braço esquerdo, do ombro até a ponta de meus dedos, estava rasgada como um pano. Coloquei a mão nas costas e vi que não tinha roupa, tinha pedaços de pele queimada na minha mão”, recordou.
“Corpos carbonizados, pedidos de socorro dos prédios em ruínas, pessoas com as tripas para fora…Este lugar tornou-se um mar de fogo. Foi o inferno.”
Recuperação
Taniguchi passou três anos e sete meses no hospital. Durante sua internação, por quase dois anos, ele só pode deitar-se de bruços devido as lesões nas costas. Neste período, Taniguchi desenvolveu escaras severas em seu peito deixando cicatrizes permanentes. A dor era tão profunda que ele repetidamente gritava: “Mate-me, mate-me!”. Posteriormente, ele foi hospitalizado frequentemente para ser submetido a um tratamento para seus pós-efeitos.
Em janeiro de 1946, o fotógrafo da Marinha dos Estados Unidos, Joe O’Donnell, tirou uma foto das costas de Taniguchi ao registrar as consequências do bombardeio em 50 cidades japonesas. Esta fotografia agora é exibida nos museus como uma representação dos danos sofridos pelos sobreviventes dos bombardeios.
Taniguchi sofreu com a cicatrização incorreta das queimaduras, os efeitos da exposição à radiação, os problemas de postura, o desconforto físico e a dificuldade para respirar até sua morte.
Ativismo
Dez anos depois do ataque atômico, quando já conseguia sentar-se, ficar de pé e andar novamente, Taniguchi fundou um grupo com outros sobreviventes e começou a atuar como ativista do desarmamento nuclear.
Desde então, ele dedicou sua vida a informar as pessoas sobre as consequências do bombardeio atômico de 1945 e a realizar campanhas contra a proliferação nuclear. Ele fez aparições públicas frequentes para falar com grupos de estudantes e participar de manifestações pedindo o desarmamento nuclear. Ele também viajou por vários países para relatar sua experiência em conferências e realizou inúmeras entrevistas para conscientizar as pessoas.
Sumiteru Taniguchi lutou para transmitir sua história até a morte. Ele falou proativamente sobre sua experiência até seus últimos anos com a finalidade de repassar as suas lembranças como um sobrevivente para as gerações atuais, apelando para a abolição nuclear e um mundo sem guerra.
“Temo que as pessoas, especialmente as novas gerações, comecem a perder o interesse”, disse à Agência AFP em 2003. “Quero que as gerações mais jovens se lembrem de que as armas nucleares nunca salvarão a humanidade.”
Taniguchi era um dos cerca de 165 mil sobreviventes restantes – conhecido no Japão como hibakusha – dos atentados nucleares em Hiroshima e Nagasaki. Com a idade média agora acima de 81 anos, suas vozes estão desaparecendo.
Em uma mensagem de vídeo em julho, o ativista acrescentou que se sentia incomodado em relação ao declínio da população dos sobreviventes que experimentaram a desumanidade das armas nucleares. “Estou preocupado com o que acontecerá com o mundo quando não houver mais sobreviventes das bombas atômicas”.
Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares
Um mês antes de morrer, as Nações Unidas adotaram o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares. O acordo proíbe o desenvolvimento, a possessão e o uso de tais armamentos.
Apesar de mostrar contentamento com a notícia, Taniguchi expressou preocupações em relação ao assunto. Ele disse na mensagem de vídeo em julho: “O tratado é inútil se cada país não fizer esforços para abolir armas nucleares”.
Fonte: Asahi, Mainichi, The Guardian, The New York Times, Japan Times, Wikipedia
Imagem destacada: Foto de 7 de maio de 2010, tirada na sede da ONU em Nova York –Mainichi