O Japão é um dos poucos países no mundo que possuem uma história milenar e mantém as práticas, costumes e cultura de seus antepassados vivos até hoje. Mesmo sem repercussão, a tradição e a modernidade geram um conflito silencioso no país.
Basicamente, o conflito entre o novo e o antigo atinge principalmente o inconsciente coletivo e a psique das pessoas. Para compreender melhor é preciso entender o alicerce religioso japonês.
Religião no Japão
Durante sua longa história, o intercâmbio do Japão estava basicamente limitado a Coreia e a China. Ambos contribuíram para a formação cultural do país.
O budismo, doutrina amplamente praticada no país chegou ao Japão no século VI. A prática originária da Índia veio pela China junto com o Tao e a filosofia Confuciana.
Durante o período da formação dos estados, entre os séculos VI e IX, a filosofia e estética confucianas foram fundamentais para os parâmetros éticos e morais da sociedade.
As recém chegadas filosofias foram adaptadas para a realidade e tradições próprias do país. É no Japão que surge o budismo zen, uma associação entre a prática mahayana e o Tao.
A maior parte da população japonesa é budista e shintô. Ambas práticas estão profundamente ligadas a natureza, ao desapego material e aos processos coletivos.
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Industrialização
O conflito entre a tradição e a modernidade começa em meados de 1850 com o rápido desenvolvimento do país e sua industrialização.
No período do pós guerra, o Japão se desenvolveu industrialmente a ponto de rivalizar com os grandes produtores do ocidente. Com isso, a vida rural e coletiva do Japão perdeu espaço para o trabalho repetitivo individualizado nas grandes fábricas do país.
Tradição e modernidade
No novo mundo, a economia e o trabalho determinam a forma como as pessoas se relacionam dentro de casa e com a sociedade. Isso gera um conflito interno nas pessoas.
Para exemplificar, no Japão tradicional é papel das mulheres cuidar da casa e dos filhos. O homem deve prover as necessidades de sua família e sua casa.
Hoje, o governo promove campanhas para inserir as mulheres no mercado de trabalho, independente do que é considerado moderno ou tradicional. Como essa mudança altera a estrutura familiar e social dos japoneses, valores éticos e morais?
Em uma sociedade altamente competitiva, que dispõe de muita mão de obra qualificada, como ficam os valores tradicionais de ter êxito e formar uma família?
Qual a consequência do trabalho da vida moderna e uma cultura que literalmente se sacrifica ao reconhecer seu fracasso?
Individualismo
As relações de trabalho deixaram de ter seu caráter coletivo. É caracterizado fortemente pelo indivíduo acima do grupo, o eu é mais importante que o nós.
Essa é a grande transformação que as relações de trabalho sofreram no século XX e contribuíram muito para os problemas que o Japão enfrenta hoje.
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As consequências desse silencioso conflito entre a tradição e a modernidade levam as pessoas ao isolamento, desorientação, confusão, queda da natalidade, falta de autoestima, entre outros.
Os budistas buscam refugio no Buddha (mente iluminada), no Dharma (palavra iluminada) e na Sangha (comunidade). Mesmo com uma população majoritariamente budista, o Japão tem casos de isolamento profundo e insegurança, uma clara cisão com a Sangha.
O shintô entende que tudo possui alma e vê as forças da natureza como divindades que regem o mundo. Assim como o budismo ambos rejeitam o apego aos bens materiais.
Com a atual sociedade materialista e consumista em todo o mundo, como é possível conciliar a tradição do modesto, com a atual cultura do desperdício dos recursos naturais e do consumo desenfreado?
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Para os brasileiros, talvez, seja difícil compreender o abismo entre o antigo e o novo. Dado que a história do Brasil é marcada pela colonização extrativa que priorizava a cultura europeia.
Para o Japão, país que se criou e desenvolveu sozinho com suas próprias características, a ancestralidade e as raízes são muito mais profundas e complexas. Elas vivem no consciente e inconsciente coletivo.
Atualmente, há pouca repercussão e estudos sobre os fatores psicológicos causados pela polaridade tradicional e moderna e como isso afeta a vida das novas gerações. Porém, o conflito continua. Ele pode não ter cara, mas vive no coração da população japonesa constantemente.
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