O filme Silêncio do cineasta estadunidense Martin Scoresese lançado em fevereiro de 2017, narra a história de jesuítas portugueses em terras japonesas no período Edo.
O longa é uma adaptação da obra fictícia do escritor japonês Shusaku Endo: Chinmoku (沈黙). Na trama dois padres jesuítas (Sebastião Rodrigues e Francisco Guarupe) partem para o Japão em busca de seu mentor, padre Ferreira.
A viagem dos missionários acontece durante o processo de proibição e banimento do cristianismo no Japão, um período marcado pela brutalidade e a violência contra os cristãos no país. Confira a história real.
Cristianismo no Japão
Os primeiros missionários a chegar ao Japão, foram os jesuítas portugueses em 1549 (Período Sengoku) em Kagoshima. A guerra civil dividia o país entre o imperador e o shogunato.
A trupe era composta pelos padres Francis Xavier, Cosme de Torres, o irmão John Fernandez e Anjiro (Pablo de Santa Fé), um japonês convertido. Os missionários foram a Kyoto solicitar ao imperador permissão para iniciar uma missão cristã no país.
Os missionários não puderam entrar em Kyoto e também sentiram forte desânimo ao ver as condições em que o palácio real se encontrava.
Influência dos Daimyos
A primeira aproximação com uma autoridade foi com os daimyos do sudeste japonês na região de Kyushu. Interessados no comércio com os ocidentais, os senhores da guerra japoneses receberam a comitiva cristã com cordialidade.
Guerra
A vantagem em obter comércio com os ocidentais deu uma clara vantagem aos daimyos na guerra, novas tecnologias e armas transformaram o cenário dos campos de batalha.
Os padres coçaram a se vestir como os nobres para aumentar sua influência no país. Deu certo, algumas figuras importantes da história japonesa se converteram ao cristianismo, mas o interesse de muitos não era religioso.
O real objetivo era minar a influência e poder político dos templos budistas. Se um senhor da guerra se convertia, subordinados e camponeses seguiam o mesmo caminho.
Seis daimyos se converteram ao cristianismo em 1579 e junto com eles mais de 100 mil subordinados e camponeses.
Oda Nobunaga foi patrono da missão jesuíta no país, após sua morte em 1582 haviam mais de 200 mil cristãos japoneses e aproximadamente 250 igrejas em todo país.
Grandeza e riqueza
Os missionários cristãos contribuíram na guerra e até em planos de assassinatos. Muitos jesuítas incluindo a ordem lucraram muito com o comércio japonês.
Em 1580 um padre chamado Vilela converteu o daimyo Omura Sumitada, responsável pelo porto de Nagasaki. Em agradecimento ao padre, Sumitada o presenteou com o porto e toda sua fortaleza.
Durante a administração cristã, o que era um porto com apenas uma rua e uma simples vila de pescadores se tornou um porto internacional rivalizando com os portos de Goa e Macau.
Um enorme volume de prata circulava do Japão para a Europa e o comércio de armas e especiarias só crescia no país por conta da abertura dos portos.
Ameaças
Os cristãos acabaram se tornando uma ameaça para o Japão por razões política e militar. O cristianismo foi proibido no país em 1614 por Tokugawa Ieyasu, ele acusava os religiosos de fraudulentos.
Kakure Kirishitan
Com a proibição, os cristãos convertidos que não abandonaram a religião eram chamados de Kakure Kirishitan, os cristãos escondidos.
Para evitar as torturas e mortes, criaram sincretismos com os deuses do shintô e ressignificaram algumas rezas e ritos.
Só com a abertura comercial com o ocidente em 1853 os kakure kirishitan quebraram o silêncio e reivindicaram o direito de exercer sua fé.
Atualmente, apenas 1% da população japonesa é cristã e a sociedade japonesa não parece reparar ou se importar com suas práticas religiosas.
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Confira alguns daimyos que se converteram ao cristianismo
- Paulo Miki (1563-1596);
- Sumitada Omura – primeiro senhor feudal cristão (1533-1587);
- Arima Harunobu – Dom Protasio, Senhor de Shimabara (1567-1612);
- Yoshido Kuroda – Dom Simeao, líder das forças de Mori ( 1546-1604);
- Yukinaga Konishi – Dom Agostinho, membro-chefe da equipe de campo de Hideyoshi (1556-1600);
- Ukon de Akashi – Dom Justo Takayama;
- Dom Leão Gamo Ujisato (1556-1595);
- Dom Agostinho Konishi (Clã Konishi, seu Kamon é uma cruz semelhante à da Ordem do
- Santo Sepulcro);
- Bizen no Gomoji – filha de Hideyoshi (1574-1634);
- Ōtomo Sōrin (大 友 宗麟 1530-1587) – Dom Francis;
- Yoshisige (藤原 義 鎮);
- Ōtomo Yoshishige (大 友 義 鎮);
- Ōtomo Yoshimune (大 友 義 統) – Constantino;
- Ōtomo Chikaie (大 友 親家) – Dom Sebastin;
- Ōtomo Chikamori (大 友 親 盛);
- Itō Mansho (伊 東 マ ン シ ョ) – Mancio Ito;
- Julião Nakaura (中 浦);
- Hara Maruchino (原 マ ル チ ノ) – Martinão Hara;
- Chijiwa Migeru (千 々 石 ミ ゲ ル) – Miguel Chijiwa;
- Hasekura Tsunenaga (支 倉 常 長);
Conheciam a história do cristianismo no Japão?