Hibakusha: os sobreviventes da bomba atômica

Sobreviver a um ataque nuclear é algo milagroso. Porém, os hibakusha, sobreviventes japoneses dos ataques nucleares ainda são atacados por outras bombas: o preconceito e a ignorância.

A destruição das cidades Hiroshima e Nagasaki é considerado como uma das maiores atrocidades cometidas contra a humanidade. Como consequência dos ataques aproximadamente 300 mil pessoas morreram, 80,000 instantaneamente.

Além disso, nem todas as pessoas faleceram por causa da explosão, metade sofreu e veio a óbito em decorrência da radiação entre dois e quatro meses após a exposição.

Aqueles que sobreviveram foram forçados a viver com o trauma da explosão, doentes e com o estigma afetado pela sociedade japonesa.

Hibakusha

Hibakusha

O dia era ensolarado e marcava 8hs15min no relógio, as pessoas estavam chegando ao trabalho quando a primeira bomba nuclear explodiu em Hiroshima no dia 06 de agosto. No dia 09, outra bomba foi lançada sob Nagasaki.

Quem estava perto do epicentro da bomba apenas viu um clarão, som ensurdecedor e um cogumelo de fogo de 8km. Os efeitos foram devastadores para esses sobreviventes, alguns tiveram queimaduras até o osso, pele carbonizada e uma sede insaciável.

Além de perderem tudo, enfrentar a recuperação, uma nova guerra contra sua própria sociedade foi travada pelos sobreviventes japoneses nos anos seguintes.

Niju Hibakusha

Tsutomu Yamaguchi

Os Niju Hibakusha são chamados assim, pois justamente sobreviveram a duas bombas atômicas. O último a ser identificado foi Tsumoto Yamaguchi, mas ainda existem cerca de 165 Niju Hibakusha no Japão.

Yamaguchi estava em Hiroshima quando sobreviveu a primeira explosão, alguns dias depois foi trabalhar em Nagasaki, quando jogaram outra bomba atômica.

Lutas e preconceito

Em 1945, havia pouco conhecimento dos efeitos da radiação no corpo humano. Por isso, as pessoas sentiam medo de terem contato com os sobreviventes.

O termo hibakusha significa “aqueles que foram afetados por bombas” e durante muitos anos a palavra era carregada de medo e preconceito.

Além de terem que enfrentar os traumas causados pela explosão, a maioria não foi capaz de encontrar um emprego no Japão ou puderam ter a oportunidade de casar.

Além da rejeição e isolamento social, os sobreviventes também foram obrigados a viver com severas doenças causadas pelos efeitos da radiação.

Então, começava uma jornada por direitos de indenização médica para o tratamento das enfermidades contraídas no ataque nuclear.

Somente onze anos depois da tragédia, em 1956, surgiu a Hidankyo (Confederação Japonesa Para Vítimas de Bombas Atômicas e Hidrogênio).

Com o nascimento do grupo e com o histórico de onze anos de ativismo cobrando o governo japonês por providências, a luta dos sobreviventes finalmente teve sua primeira vitória.

No mesmo ano da fundação da Hidankyo, a Genbaku Iryoho (lei de cuidados médicos aos sobreviventes da bomba atômica) foi aprovada no país.

Já no ano de 1968, o Ato de Medidas Especiais as Vítimas foi promulgada. A medida indenizava financeiramente os hibakushas, além de oferecer medidas especiais para a saúde.

Desde então, diversas vitórias judiciais foram vencidas pelos sobreviventes do horror nuclear. Mas apesar das superações, algumas coisas ainda permaneceram.


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Hibakusha hoje em dia

Atualmente, o preconceito aos sobreviventes aumentou significativamente após o desastre de Fukushima. O medo e a discriminação voltaram a fazer parte do cotidiano de muitas pessoas.

É importante ressaltar que embora o termo signifique aqueles que foram afetados por bombas, pode ser empregado a qualquer pessoa que tenha sido exposta a radiação.

Existem até categorias para diferenciar os sobreviventes. Portanto, são considerados hibakusha:

• Pessoas expostas diretamente na explosão;
• Pessoas expostas em um raio de 2 km e até duas semanas após o ataque;
• Pessoas expostas após duas semanas;
• Gestantes e crianças no útero materno;

Os grupos de sobreviventes espalhados pelo país alertam para os riscos da discriminação. Além disso, reforçam o discurso do perigo que isso representa para uma parcela da sociedade que já sofreu o suficiente.

Infelizmente a falta de informação e o medo insensato ainda assombra esse grupo e os força a viver seus traumas escondidos.

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