A produção e inovação cultural do Japão através dos milênios são magníficas, entre as mais recentes está uma dança sombria chamada Butoh.
Essa expressão artística foi desenvolvida pelo artista e coreógrafo japonês Hijitaka Tatsumi e ganhou notoriedade mundial nas décadas de 70 e 80.
A primeira apresentação oficial no Japão aconteceu em 1959 com o nome de Kinjiki, uma obra inspirada no romance do escritor e dramaturgo Yukio Mishima.
Aqueles que já assistiram uma apresentação de Butoh sabe que é impossível ficar indiferente ou alheio a essa dança sombria.
Os sentimentos expressos pelos artistas são extremamente viscerais e às vezes até mesmo perturbadoras, mas existe uma razão religiosa e histórica para isso.
O Japão e a história
Hijitaka Tatsumi nasceu em 1928 em Akita. Durante sua infância, os cidadãos japoneses lembravam com saudosismo o êxito do império japonês na primeira guerra mundial.
Afinal, durante a primeira grande guerra, a economia japonesa teve um grande salto e não houve conflito dentro do território japonês.
Então, a maioria da população não vivenciou a guerra da mesma forma que os países europeus e africanos.
Quando a guerra realmente chegou ao Japão durante a segunda grande guerra, os horrores dos bombardeiros, das percas humanas, da destruição das cidades trouxeram experiências traumáticas para a população japonesa.
Nesse momento, assim como os movimentos artísticos, como o surrealismo e o dadaísmo surgiram durante a primeira guerra mundial, um novo horizonte se apresentou para a arte japonesa.
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O surgimento do Butoh no Japão
Hijitaka Tatsumi trabalhou com o artista Kazuo Ohno. Ambos testemunharam a segunda guerra mundial, a destruição das cidades de Hiroshima e Nagasaki e a baixo autoestima da nação.
Após se renderem oficialmente em 1945, o Japão foi ocupado pelas forças militares estadunidenses e uma série de mudanças radicais começaram a acontecer no país.
A dança se trata da busca pela identidade perdida, a grande nação derrotada e ocupada e as transformações radicais na cultura e nos valores da sociedade japonesa.
Existe uma grande aproximação entre as apresentações e o shintô. Para além das questões enfrentadas pela sociedade japonesa no pós guerra, o Butoh também reflete sobre a união do ser humano com a natureza.
Uma espécie de despertar dos poderes adormecidos nas profundezas da alma humana, existe apenas a expressão mais pura do sentimento que transita no corpo.
Outro aspecto interessante sobre a dança sombria japonesa é a negação da tecnologia e seu poder destrutivo fortemente influenciado pelos ataques nucleares.
De fato, atrás do Butoh está a percepção que o corpo humano, por si só, é uma obra de arte. Os atos são puros e artísticos, o atuar e representar não fazem parte do conceito.
A própria dança por trás dos movimentos corpóreos estão ligadas a comunicação não verbal que expressa dor, alegria, angústia e qualquer emoção ou sentimento.
Confira uma pequena apresentação de Butoh.
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