Hikikomori é um fenômeno social recente na história do Japão. As autoridades do país definiram que pessoas em reclusão social a mais de seis meses são portadores da doença.
Aliás, já falamos sobre o assunto no artigo Hikikomori: meio milhão de pessoas nunca saem de casa no Japão, saiba os motivos
Até a data de publicação do artigo no Coisas do Japão em 2017, o governo japonês tinha detectado cerca de meio milhão de japoneses que viviam em situação de completa de reclusão social.
Mas um novo estudo revelou que o número supera a casa do milhão. Além disso, diferente dos dados anteriores, a faixa etária mais afetada pelo hikikomori não são os jovens.
Segundo o relatório divulgado pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem Estar do Japão com base nos dados do ano fiscal de 2015, 613 mil japoneses entre 40 e 64 anos são a maioria.
Já os japoneses entre 15 e 39 anos com sintomas da síndrome perfazem 541 mil pessoas. Além disso, 76,6% dos reclusos pertencem ao sexo masculino.
Um conflito silencioso
Por regra, a cultura japonesa dita que o bem estar coletivo deve estar acima do individual. Por mais bela que essa cultura pareça, há um preço alto a ser pago pelos cidadãos japoneses.
Afinal, os efeitos colaterais dessa cultura incluem depressão, ansiedade, síndrome do pânico e até mesmo suicídio.
Além disso, a repressão de emoções e sentimentos em prol do bem estar coletivo gera uma série de conflitos internos. No demais, raramente são externados para a família ou para a sociedade.
Como resultado, muitas pessoas sentem-se solitárias e impotentes perante as expectativas criadas pela família e pela sociedade sobre o futuro e a importância do indivíduo para a manutenção e sustentação do país.
Normalmente pessoas que sofrem da síndrome hikikomori são pessoas com baixa autoestima e que se sentem deslocadas no seu próprio meio. Seja pela forma de pensar, falar ou agir.
Falta de perspectiva
Dez anos após o fim da segunda guerra mundial, o Japão passou pelo período conhecido como milagre econômico japonês.
Entre 1955 até a metade da década de 70, o Japão crescia de maneira vertiginosa. Além disso, havia muito oferta no mercado de trabalho com bons salários para profissionais de todos os ramos.
Mas não existe crescimento infinito e a resseção era inevitável. Portanto, a partir da década de 80 o crescimento japonês desacelerou. Já na década de 90 houve uma drástica queda na economia do país.
Esse período conhecido como década perdida (há quem argumente que foram duas décadas perdidas e quem acredite que o Japão nunca se recuperou completamente) colaborou significativamente para o fenômeno de hoje.
Muitos jovens universitários do Japão da década de 80 e 90 não conseguiram um lugar no mercado de trabalho, além de não terem encontrado estabilidade financeira.
O sentimento de vergonha e de impotência abalou muitos japoneses. Hoje, não conseguem ter uma vida social ativa e optaram pela reclusão social.
Esse é um grande problema enfrentado por jovens a partir dos 20 anos e enfrentam muita dificuldade em encontrar um emprego.
Falta de objetivos
Muitos japoneses passam a viver em reclusão a vida social quando param de trabalhar e se tornam aposentados.
A vida no Japão do século XXI não é exatamente a mais adequada para pessoas idosas ou pessoas fora do mercado de trabalho.
Além disso, a falta de objetivos e até mesmo de um círculo social entre pessoas a partir dos 64 anos é um grande obstáculo para estimular passeios e atividades sociais.
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Fatos e dados assombrosos
Embora o governo japonês entenda o hikikomori como isolamento social a partir de seis meses de reclusão, 46,7% das pessoas com a síndrome social estão reclusas a mais de sete anos.
Os que estão reclusos entre três e cinco anos dentro de suas casas chegam a 21,3%. Ou seja, pelo menos 68% dos diagnosticados são de longa data.
Mas nem todos os portadores da síndrome sentem que precisam de ajuda. De acordo com a pesquisa, 47% desejam ajuda profissional, mas apenas 44% de fato buscaram.
Ainda de acordo com o ministro da saúde, trabalho e bem estar do Japão, Takumi Nemoto, o hikikomori é uma nova questão social e deve se tratada adequadamente com base em estudos e análises.
Ainda que o número de portadores da síndrome seja maior que um milhão, ainda é cedo para determinar quantos casos realmente existem no país dado a dificuldade em identificar e entrevistar essas pessoas.
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