A maioria das pessoas tende a imaginar a terceira idade, tal qual as propagandas de previdência privada vendem para seu público, uma rotina cheia de vida, paz e felicidade.
Porém entre a imaginação e a realidade existe um abismo colossal. O Japão, por exemplo, enfrenta um paradoxo contemporâneo, que por vezes, ultrapassam a razão. Muitos idosos estão preferindo passar a velhice atrás das grades do que tentar sobreviver em liberdade.
Déficit previdenciário japonês
No Japão, o envelhecimento da população é um grande problema que gera outros, igualmente complicados de serem resolvidos pelo governo japonês.
A falta de mão de obra qualificada no mercado de trabalho é um dos grandes desafios para uma sociedade que envelhece em um ritmo acelerado.
Sendo o Japão o mais hegemônico do mundo, contratar estrangeiros para essas funções é complicado por alguns motivos.
O mais alarmante é a relutância da população japonesa em abrir suas portas para imigrantes permanentes.
As questões culturais e tradicionais, além dos costumes do país são extremamente sensíveis para os japoneses. O temor é que com a abertura do Japão, essas características se percam de vez.
Por mais habilidoso que um estrangeiro seja para um cargo técnico, a questão do idioma também sempre é um empecilho.
Isso dificulta e muito a reposição de mão de obra no mercado e consequentemente a arrecadação da previdência social.
Com menos profissionais no país, o número de trabalhadores ativos em regime de colaboração em relação a população aposentada está declinando drasticamente.
E com menos arrecadação, já que muitos trabalhos são temporários, a inseguridade social dos idosos do Japão é visível a olho nu.
Recorrendo a criminalidade
Considerando o cenário do país (estima-se que até 2060, 40% da população japonesa será composta por idosos), muitos estão apelando para a criminalidade.
Como muitos não têm condições de pagarem por cuidadores ou uma casa de repouso (ambos com grande déficit no país), ir para a cadeia se tornou uma solução prática para seus problemas.
Além disso, muitas pessoas da terceira idade do Japão não tem familiares ou não podem contar com a ajuda deles. Já que o ritmo de trabalho é muito exigente.
A situação chegou a um ponto tão crítico que forçou o governo japonês a repassar mais 58 milhões de ienes para cobrir gastos geriátricos em 70 presídios do país em 2017.
E como o sistema judiciário japonês é um dos poucos do mundo onde não há presunção de inocência, a condenação por crimes banais é certa e severa.
Um furto de qualquer produto de 100 ienes, por exemplo, pode render dois anos de reclusão no sistema carcerário japonês.
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O paradoxo
Embora o Japão seja considerado o nono país mais seguro do mundo, o aumento da população carcerária de terceira idade no país cresceu drasticamente nos últimos 10 anos.
Se quiser, confira alguns dados extraídos em inglês do Departamento de Justiça Japonês <Dados criminalidade Japão>
Considerando o ritmo acelerado do encarceramento de idosos, é possível que a situação comece e se tornar insustentável.
Isso porque existem muitos custos para manter uma pessoa presa. Isso começa desde o departamento de polícia, passa pelo judiciário, para finalmente chegar em uma prisão.
Somente nesse translado burocrático existem muitos gastos. Uma vez na prisão, existem custos de pessoal, manutenção, alimentação, remédios e outros do dia a dia.
Enquanto o problema da previdência só cresce, a questão carcerária da terceira idade também e aumenta as despesas do estado.
Se de um lado falta dinheiro para investir na previdência social, por outro lado há para alocar no sistema penal. Afinal, ele deve continuar a ser um exemplo para os outros cidadãos.
Essa questão envolvendo os idosos do Japão deixou de ser um dilema para se tornar um paradoxo ético, social e econômico.
Afinal, o que fazer com os idosos do país que não conseguem pagar por uma casa de repouso, por um cuidador, ou que não podem contar com a presença de um familiar?
Bombas-relógio
O problema previdenciário japonês já é considerado como uma bomba relógio há alguns anos. Se não houverem reformas profundas na política nacional, em vez de explodir, ela implodirá a sociedade japonesa.
Enquanto isso, o aumento de crimes cometidos por pessoas da terceira idade e que atualmente correspondem a 21,5% da população carcerária do país está se tornando uma nova bomba relógio.
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