O 125° Imperador do Japão é um caso sem precedente no trono crisântemo. Akihito, Imperador da era Heisei deu declarações inusitadas, defendeu o povo a paz, desafiou os tradicionalistas e os nacionalistas, casou por amor e mais. Confira.
Papel do Imperador
Ao longo da história japonesa, os imperadores eram considerados kamis, ou seja, a encarnação de um deus da religião shinto. Inclusive, os Imperadores japoneses compartilham o sangue do primeiro Heika Jimmu, bisneto da deusa Amaterasu.
Por isso, antes da ocupação estadunidense no arquipélago no final da segunda guerra mundial, a figura do Heika era a de um deus que caminhava entre os humanos.
Com a rendição japonesa, o então Imperador Hirohito aceitou perder o título de kami, pois era uma condição essencial para a nova constituição do país.
Akihito
Akihito nasceu em 1933, um momento onde o expansionismo do império japonês estava em curso em países vizinhos. Criado por serviçais do Imperador Hirohito, tinha apenas 11 anos de idade quando a segunda guerra mundial acabou.
Casamento
Um de seus atos mais ousados foi casar com uma plebeia, a Imperatriz Michiko Shoda, filha de um importante empresário do Japão.
Além de não existir um paralelo na história japonesa, a tradição imperial impunha o omiai (casamento arranjado) para todos os membros da família real.
Akihito em vez de se casar por benefícios e poderosas alianças escolheu um matrimônio pelo amor. Foi criticado abertamente na época pelos tradicionalistas, mas os enfrentou.
Pode até não parecer ser algo muito importante, mas o casamento entre o herdeiro do trono crisântemo com uma plebeia não rompia apenas com a tradição monárquica do país, também foi importante como um símbolo de democracia na Terra do Sol Nascente.
Vida familiar
Diferente de seu pai e seus antepassados, o Heika Akihito e a Imperatriz Michiko optaram por criarem seus filhos em vez de deixarem a responsabilidade para os funcionários da família imperial.
Essa é uma outra grande ruptura dentro da monarquia japonesa. Segundo as tradições, o Imperador é considerado importante demais para se preocupar com criação dos filhos.
Poder simbólico
A constituição japonesa veta o Imperador do país de dar declarações políticas. Além disso, suas atribuições políticas são semelhantes a de um chanceler e seu poder está baseado no shinto.
Discursos e críticas
Apesar disso, o Heika Akihito conseguia dar declarações e conseguia se expressar sem quebrar as leis de seu país.
Seus discursos apelando pela paz baseado nas experiências anteriores do Japão acabavam reverberando no parlamento e na população japonesa.
Além disso, o Imperador Akihito é especialmente duro ao nacionalismo japonês. Suas declarações já foram interpretadas como uma crítica indireta ao primeiro ministro japonês, o nacionalista Shinzo Abe.
Além disso, sempre foi a favor da abertura do Japão e por manter laços estreitos com outros países.
Laços internacionais
Um momento muito importante na tragetória do Imperador Akihito aconteceu em 1992. Ele fez uma visita inédita a China.
Durante sua visita a Terra do Sol Poente afirmou sentir um grande sofrimento pelo povo da China pelos horrores de guerra cometidos pelo seu país.
Até os dias de hoje o governo japonês nega veemente atrocidades ou crimes de guerra cometidos pelas forças imperais japonesa, por isso a declaração de Akihito foi tão marcante.
Em outra de suas declarações, o Imperador japonês afirmou sentir um grande arrependimento pelo brutal governo de ocupação do Japão na Coreia durante os anos de 1910 a 1945 também.
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Próximo do povo
Ao longo da história japonesa sempre existiu uma fronteira abstrata entre a família real e as pessoas comuns.
Em tese, o papel do Imperador antes de 1945 era ouvir o apelo popular do palácio e tomar alguma providência. Atualmente entre outros compromissos seu dever é oferecer orações ao povo.
Após o trágico terremoto seguido de tsunami em 2011, o monarca realizou um discurso para acalmar a população.
Dois meses depois da tragédia, o Imperador e a Imperatriz foram ao encontro das vítimas do tsunami em Fukushima para o espanto dos conservadores do shinto.
Apesar da era Heisei não ser considerada a melhor era econômica do país, a família imperial conquistou a simpatia e o respeito da sociedade japonesa pelos gestos e atitudes humanas de Akihito.
O príncipe herdeiro Naruhito que assumirá o trono crisântemo em 1° de maio de 2019 e dará início a era Reiwa afirmou que pretende seguir os passos de seu pai.
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