Já ouviu falar dos Onmyōji, os místicos sacerdotes do Japão antigo? Não são tão famosos quanto monges budistas e do shinto, mas foram fundamentais na história do Japão.
Ceticismo vs Superstição
Existe uma linda contradição dentro da sociedade japonesa. Afinal, a tendência é serem céticos e supersticiosos ao mesmo tempo.
Quando a o budismo é a base filosófica (ou religiosa) de um país, o ceticismo é algo natural. Principalmente quando a própria sociedade é influenciada pelo confucionismo.
Além disso, diferente da interpretação das religiões cristãs sobre as palavras de Cristo, os ensinamentos de Buddha Sakyamuni são muito claros quanto a necessidade da prática e observação.
Porém, curiosamente, os japoneses são igualmente supersticiosos. Um pouco por causa da religião shinto e boa parte por causa das lendas, folclores e associações de significados para números e palavras.
Onmyōji
Durante o período Heian surgiram um grupo de sacerdotes que representavam essa síntese cultural, os onmyōji, praticantes da arte conhecida como Onmyōdō.
Um breve histórico do Onmyōdō
Onmyōdō pode ser compreendido como “o caminho do yin-yang”. Assim como todas as artes foi uma prática bem complexa.
Para uma pessoa ser considerada como uma onmyōji, era necessário conhecimentos como o Tao, astrologia, cosmologia, esoterismo, alquimia, feng shui, ukondō (artes medicinais) e shinto.
A prática do sacerdócio do Onmyōdō começou entre os séculos V e VI. Foi durante a era Heian que a arte chegou a um patamar sem precedentes na história do Japão.
A influência dos onmyōji era tão grande entre os nobres e o Imperador do Japão, que durante os séculos VII e VIII, foi criado o Departamento de Onmyō.
Onmyōji: os sacerdotes místicos
Os onmyōji, isto é, os praticantes da arte onmyōdō eram capazes de grandes realizações. Faziam exorcismo e a invocação e manipulação de Shikigami (espíritos de proteção de feiticeiros).
Magia
Além disso, seus maiores talentos estavam na magia e na arte de previsões de eventos. A habilidade era tanta que durante o período Heian, os sacerdotes eram funcionários públicos do Japão.
Suas principais funções eram a manutenção e controle do calendário, proteção da capital contra ataques de demônios, espíritos malignos e vingativos, práticas mágicas e de adivinhação.
Enquanto o Departamento de Onmyō foi patrocinado pelo Imperador, a maioria dos nobres viviam consultando os onmyōji para saberem quais sortes ou infortúnios os aguardavam.
Sorte e azar
Um dos serviços oferecidos por onmyōji e mais utilizados pelos nobres japoneses daquele período era conhecido como direção da sorte e do azar.
Essa leitura de sorte dependia essencialmente da estação do ano, dia e hora. Além de algumas outras circunstâncias.
A influência dos onmyōji era tão grande que os consultantes mudavam suas rotinas durante períodos de azar.
Embora muitos dos conhecimentos necessários para o exercício dos onmyōji fossem metafísicos e abstratos, existia uma sabedoria científica imensa dentro da prática.
Mas o grande respeito pelo onmyōdō surgiu quando Abe no Seimei emergiu na história japonesa e levou a arte a um novo patamar.
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Abe no Seimei: o grande sacerdote
O grande sacerdote Abe no Seimei foi o principal astrólogo da corte do Imperador Ichijo. Além disso, suas previsões eram espantosamente precisas.
Uma de suas previsões mais impressionantes foi a abdicação do Imperador Kazan. Baseada na ciência astronômica e astrológica.
De acordo com a história do Japão, Seimei era um ser humano com alma divina. Por isso teve uma vida longa e próspera.
A lenda afirma que Abe no Seimei era filho de um ser humano, Abe no Yasuna, mas sua mãe Kuzunoha era uma kitsune, ou seja, um espírito de raposa.
O desafio
Em uma das lendas sobre sua vida, um onmyōji rival, Ashiya Doman, tentava tomar seu lugar na corte imperial e lançou um desafio. Eles deveriam adivinhar o conteúdo de uma caixa.
Segundo o conto descrito na coleção Konjaku Monogatarishu, Ashiya Doman trapaceou e instruiu uma pessoa para colocar 15 laranjas dentro do recipiente.
Porém, Abe no Seimei percebeu a armação e utilizou seus poderes sobrenaturais. Transformou as frutas em ratos.
Apesar da trapaça realizada por Ashiya Doman, acredita-se que ele também tenha sido um grande onmyōji.
Estrela de cinco pontas
De acordo com as lendas, Seimei é responsável pela criação da estrela de cinco pontas japonesa (conhecida no ocidente como pentagrama) e representa os cinco elementos: fogo, terra, metal, água e madeira.
Após sua morte no ano de 1005, um santuário foi construído em sua homenagem em Kyoto.
Durante o reinado do clã Fujiwara, o onmyōdō se tornou extremamente popular, tanto para a nobreza, quanto para a população comum do Japão.
Diversos rituais surgiram como fruto dos estudos de Abe no Seimei e Kamo no Yasunori, os principais nomes da arte japonesa.
No entanto, foi somente durante o século XIX que o onmyōdō foi proibido em todo o Japão por ser considerado como uma forma de superstição.
Apesar disso, o onmyōdō ressurgiu no Japão moderno. Hoje em dia é compreendido como uma forma de sacerdócio específico do shinto.
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