O budismo e o shinto são pilares essenciais da cultura, tradição e costumes da sociedade japonesa.
Porém, o budismo nasceu na região nepalês do Himalaia e migrou para outras regiões como Coreia, China, Tibete e o próprio Japão. Já o shinto é a única religião nativa do Japão.
Histórico da religiosidade japonesa
Muitas pessoas acreditam que o shinto esteja no Japão desde sua criação, o que é parcialmente verdadeiro. Pelo menos no que diz respeito as práticas espirituais.
Já o budismo chegou no século VI e se tornou a oficial do estado no começo do século VII por influência do Príncipe Shotoku, patrono do budismo japonês.
Mas o shinto também esteve presente na história do Japão. Além disso, a diferença entre eles era mais formal do que existencial.
Durante séculos, praticamente todos os rituais e cerimônias dedicadas aos Kamis eram realizados por monges budistas. Isso porque o conceito do shinto como religião ainda não existia.
Mas entre os séculos XIV e XV, um sacerdote shinto chamado Yoshida Kanetomo mudou o rumo da história.
O surgimento de uma nova religião
Durante sua trajetória como sacerdote, Yoshida Kanetomo sentiu a necessidade de separar o que eram práticas religiosas nativas das estrangeiras.
Isso porque antes do século XV não havia uma clara separação entre uma prática e a outra (budismo e shinto). Além disso, elas aconteciam simultaneamente pelo sincretismo.
Como Yoshida foi uma pessoa influente entre os nobres do país, conseguiu convencer a elite política japonesa a atribuir a ele o cargo de emissário de títulos de sacerdócio.
Separação
Com esse poder em mãos, começou a separação entre o que eram as deidades budistas e as divindades japonesas.
A partir de então, apenas sacerdotes dedicados as divindades japonesas poderiam exercer os rituais e cerimônias do shinto.
Esse ato criou o shinto tal qual se conhece hoje em dia, uma religião discreta. Ainda que a prática seja muito anterior ao budismo, ela só existe oficialmente a partir do século XV.
Escola Yoshida
Além disso, Yoshida criou a Escola Yoshida de Shinto. Ele também foi responsável pela sistematização dos preceitos litúrgicos e da mitologia.
Embora Yoshida não tivesse a intenção de criar atritos entre as duas correntes filosóficas, a criação da religião nativa do Japão trouxe problemas nos séculos seguintes.
Problemas
Durante o século XVII na Era Edo um movimento nacionalista muito forte que vinha desde o século XII foi patrocinado pelos shoguns do país. Nesse período, todas as religiões não nativas foram perseguidas no Japão.
Portanto, foi um período em que monges budistas andavam com armas para se defender dos ataques realizados pelos governos locais. Esses guerreiros eram conhecidos como Sohei ou Ikko-Ikki.
As velhas práticas
Apesar dos primeiros relatos sobre o shinto aparecerem nas coleções Kojiki de 712(古事記) e Nihon Shoki de 720 (日本書紀), as práticas podem ser muito mais antigas.
Origens
Isso porque o o sistema de escrita japonês só começou a ser desenvolvido por volta do século V. Portanto, antes desse período era uma sociedade de tradição oral.
Por isso, não há um consenso entre os estudiosos sobre como tenha surgido o culto das divindades do Japão.
Quem eram os kamis?
Muitos historiadores acreditam que as primeiras divindades foram pessoas muito importantes para as primeiras sociedades do Japão.
É possível que os primeiros kamis tenham sido os membros (ou chefes) mais importantes e virtuosos dos principais clãs do país. Eles foram imortalizados por seus familiares e suseranos.
As divindades eram veneradas por vários motivos. Respeito, admiração e crença da ajuda espiritual.
Conceito de divindade
É preciso ter em mente que, tanto o budismo quanto o shinto, não compreendem o conceito Deus/divindade da mesma forma que os ocidentais.
Na visão dos japoneses e do shinto, kami é algo próximo do poder absoluto ou supremo. O kami Raijin, por exemplo, é a divindade da tempestade e do trovão.
Tanto as tempestades, quanto os trovões são um evento supremo e absoluto. Portanto, não há nada que os seres humanos possam fazer para deter uma tempestade ou uma trovoada.
Então, não há qualquer semelhança entre as religiões monoteístas e o shinto, uma religião animista. Ou seja, uma filosofia que entende que todas as coisas materiais e imateriais possuem um espírito (alma) e agem de forma intencional.
Os japoneses e a liturgia
Atualmente, 119 milhões de japoneses se consideram seguidores do shinto. No entanto, apesar do número, boa parte dos seguidores não sabem exatamente como é a liturgia da religião.
Se você visitar um santuário, perceberá cartilhas de etiqueta em vários idiomas (incluindo o japonês) ensinando como devem ser realizadas as orações e outras regras da religião. E isso acontece por diversos motivos.
Por mais antiga, ela acompanhou o desenvolvimento da sociedade japonesa e também se transformou.
Muitos kami reverenciados no passado, como as principais divindades perderam espaço para outros.
É como se aquela energia específica se tornasse obsoleta e as características de outros fossem mais condizentes em uma determinada época.
Afinal, o shinto possui mais de oito milhões de kami. Cada um possui uma forma diferente de preceitos e reverências.
Diferente das religiões monoteístas, como o catolicismo, por exemplo, que independente da Igreja que um fiel entrar a liturgia é a mesma, no shinto cada santuário possui características únicas.
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Santuários
Os santuários do shinto podem ser encontrados no meio das grandes cidades, como uma espécie de oásis na correria do cotidiano. Além disso, podem ser encontrados no meio de florestas e da natureza.
Essa conexão do shinto com a natureza é um princípio fundamental da religião. Também remontam a história do Japão, sua cultura, costumes e tradições.
Do ponto de vista ocidental, alguns santuários muito importantes ficam em regiões isoladas e são construções muito modestas para o tamanho e a importância do shinto para o Japão.
Embora existam santuários magníficos como o Kasuga Taisha em Nara (um dos mais principais e mais antigos do país), o shinto não é uma religião megalomaníaca.
Além disso, muitas construções com arquitetura e decorações aparentemente milenares são recentes.
Um bom exemplo é o santuário Meiji Jingu, um santuário construído em 1920 para deificar o Imperador Meiji e que tem um aspecto bem antigo.
De qualquer forma, muitos se tornaram importantes rotas turísticas do país por causa dos festivais realizados.
Esses eventos são fundamentais para manter viva a cultura, tradição e história do país. Aliás, muito mais do que isso. São muito importantes para arrecadar fundos para a manutenção dos santuários.
Aliás, participar de um festival é uma forma muito divertida para absorver aspectos culturais da sociedade japonesa.
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