O escândalo de um casamento imperial japonês realmente aconteceu e teve um desfecho inusitado.
Antes, confira algumas informações úteis para compreender melhor o que aconteceu em abril de 2003.
Família Imperial japonesa
A linhagem sanguínea da família Imperial japonesa conta com mais de 1.500 anos de história. De acordo com a mitologia do Japão, o Imperador Jimmu era descendente direto da kami do Sol, Amaterasu.
Quando a segunda guerra mundial terminou em 1945, o então Imperador do Japão, Hirohito renunciou sua divindade e perdeu os poderes políticos do país.
Desde então, a figura do Imperador no Japão é dedicada a unidade nacional e a religião shinto.
É por isso que os japoneses respeitam e gostam tanto da família real. Eles são um laço direto da fundação do país enquanto nação.
Porém, devido a suas raras aparições públicas, a maioria dos japoneses não conhecem, reconhecem ou sabem quem são todos os membros da família real.
Afinal, são 15 princesas e 3 príncipes além das famílias secundárias que compõem a casa Imperial do Japão, a linhagem real mais antiga do mundo.
Essa informação foi indispensável para o plano do príncipe Satohito Arisugawa.
Príncipe Satohito Arisugawa
Apesar da linhagem sanguínea do Imperador do Japão, muitas casas reais secundárias deixaram de existir ao longo da história do país.
Só após a segunda guerra mundial, onze casas reais secundárias foram cortadas da Casa da Família Imperial do Japão.
A família Arisugawa deixou de fazer parte da família Imperial a mais de 90 anos na ocasião do “casamento imperial” de abril 2003.
Yasuyuki Kitano, um homem de Kyoto pesquisou sobre as antigas famílias reais do Japão e descobriu a linhagem dos Arisugawa. Então, começou a planejar um golpe e criou o nome do príncipe Satohito Arisugawa.
O plano
Enquanto planejava o golpe, Kitano conheceu Harumi Sakamoto, uma mulher divorciada com dois filhos. Sakamoto abriu portas para o plano perfeito: um casamento Imperial.
Casamentos no Japão normalmente são bem caros, pessoas normais costumam convidar poucas pessoas para a cerimônia.
Por sua vez, os convidados oferecem dinheiro ao casal. A quantia serve para ajudar a pagar as despesas, mas quando (e se) sobra um montante, o dinheiro fica com os recém casados.
Logo, um casamento Imperial atrairia a classe alta japonesa e poderia render muito dinheiro em presentes.
Pouco tempo depois de Kitano conhecer Sakamota, ela o apresentou para Shinya Kusonoki, um executivo de uma agência de organização e planejamento de casamentos.
Tudo parecia correr bem para o trio golpista, mas ainda faltava alguma coisa para dar maior legitimidade para o evento.
O bode expiatório
Nada melhor para sensibilizar o coração e o bolso das pessoas do que crianças carentes. Foi por isso que o “príncipe Satohito Arisugawa” visitou uma pequena instituição de caridade.
Durante a visita a instituição regida pelo santuário Amatakagahara de Miyazaki, “Satohito Arisugawa” prometeu arrecadar fundos para as crianças.
De acordo com Senshu Tanaka, um monge do santuário, o “príncipe” prometeu levantar cerca de U$ 36 milhões em um período de três anos.
Empolgados com a promessa de Kitano, o santuário passou a vender água mineral com o “selo da família Arisugawa” mas nunca viu nenhum centavo do lucro.
O plano estava pronto, o casamento Imperial aconteceria também para arrecadar fundos para a pequena instituição de caridade.
O casamento
Graças a Shinya Kusonoki, o casamento aconteceu em um clube próximo a embaixada canadense, um lugar extremamente prestigiado.
Enquanto o “príncipe” usou um uniforme militar tradicional, Harumi Sakamoto usou um belo kimono de 12 camadas para receber seus mais de 2 mil convidados e depois trocou por um vestido ocidental.
Compareceram na festa cerca de 350 personalidades da classe alta japonesa, além de celebridades como o ator Junichi Ishida e Hidenori Sakurai, ex editor da revista feminina Josei Jishin.
Porém, apesar do clube sofisticado, algumas pessoas acharam estranho a comida da festa ser de baixa qualidade, não só para os padrões da família Imperial, como dos próprios convidados.
De qualquer forma, o trio conseguiu receber 13 milhões de ienes (R$ 467.610,00*) em presentes dos convidados.
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Plano perfeito, resultado infeliz
Depois da festa, muitas pessoas ficaram curiosas sobre o príncipe Satohito Arisugawa. Depois de pesquisarem e descobrirem a farsa denunciaram o casal.
Além da prisão de dois anos para cada acusado por fraude, a festa de casamento acabou custando muito e sobrou apenas 700 mil ienes dos 13 milhões de ienes.
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*Valor convertido através do Banco Central no dia 03/06/2019*