Mono-no-aware: sabedoria ajuda a entender e lidar com o fim

O Mono-no-aware é um conceito nascido do shinto e posteriormente utilizado por monges budistas. Por isso, tem duas interpretações para ajudar a compreender a beleza e ter consciência do fim.

Visão do shinto

O termo Mono-no-aware está na classe de palavras que não possuem tradução exata ou literal. A forma mais abrangente possível para a compreensão de um ocidental seria “o pathos das coisas”.

Pathos é uma palavra grega com diversos significados. Pode ser compreendida como sofrimento, experiência, paixão, excesso, catástrofe, sentimento, empatia, compaixão, sentimento de dó, entre outros. No geral representa as emoções.

Emoções diferentes

Consciência de que tudo é passageiro

Experiência, talvez, seja o melhor termo para exprimir o que Mono-no-aware quer dizer. Inicialmente, o conceito principal era a consciência de que tudo é passageiro.

Recortes de fotos

Isso porque o shinto é uma religião animista, então, há um esforço entre os monges para que as pessoas comuns compreendam o meio em que vivem, ou seja, a natureza.

Um dia tudo acaba

Como na natureza tudo é efêmero e finito, seria importante estar consciente desse fato. Dessa forma, a morte se tornaria algo mais próximo ao cotidiano e mais natural.

Então, o princípio do Mono-no-aware quando surgiu foi a compreensão da impermanência pela experiência das outras coisas.

A percepção budista

Para os budistas a consciência não bastava. Era necessário apreciar a beleza da transitoriedade das coisas, das relações e da vida.

Quando alguém está plenamente consciente da efemeridade de cada momento, tende a apreciá-lo de maneira mais profunda, sincera e intensa.

Homem apreciando o sol

Fim é motivo de beleza

Segundo o Mono-no-aware, o fim de algo ou de alguém não deve ser motivo de luto, e sim, de beleza. A transformação das coisas não precisa ser dolorosa, ainda que o impacto do fim mude tudo ao redor.

Com o fim é possível encontrar beleza, aprendizagem, experiência, empatia, compaixão na mesma medida em que é possível encontrar dor, tristeza e sofrimento.

Portanto, seria mais uma questão de opção, do que sofrimento. Há uma frase budista atribuída a Sidartha Gautama que diz: “A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”.

Por qual motivo o fim dói?

Lágrimas nos olhos

Do ponto de vista filosófico e espiritual, o sofrimento do fim é resultado da ilusão da posse. Tanto para o budismo, quanto para o shinto, o apego é responsável por muitos sofrimentos desnecessários.

De acordo com Buddha, todo o sofrimento humano é causado pelo desejo e apego. E para os budistas, o apego é oposto ao amor.

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Como os japoneses vivenciam o Mono-no-aware?

Pétalas de Sakura no chão

A vida moderna tem como efeito colateral o afastamento das pessoas da natureza e um cotidiano corrido com pouco tempo para repousar.

Mesmo assim, os japoneses são capazes de vivenciar o Mono-no-aware ao menos uma vez ao ano quando ocorre o desabrochar das sakuras.

As flores representam a primavera e suas belezas. No entanto, são especialmente bonitas quando estão para morrer, pois deixam um oceano de pétalas no chão.

Então, todos os anos esse fenômeno é ansiosamente aguardado. Essa vivência, consciência da beleza do fim é um dos conceitos do Mono-no-aware.

A origem

Antes do século VI, a única religião do Japão era o shinto. Embora ainda não tivesse esse nome, era o pilar espiritual da sociedade até então.

A partir do século VI, o budismo chegou ao Japão com monges da Coreia e da China. Já no século VIII, o budismo se tornaria a religião oficial do estado japonês.

Como houve um sincretismo harmônico entre o budismo e o shinto (e o shinto não era compreendido como uma religião separada do budismo), boa parte do conhecimento do zen só foi possível graças ao shinto.

Entre eles está o Mono-no-aware, nascido em algum momento do período Heian e utilizado nos Contos de Genji, um dos maiores tesouros literários e culturais do Japão.

Seu sentido foi transformado graças ao diálogo entre as duas religiões. Inicialmente era uma questão de consciência. Porém, mais tarde se tornou uma forma de apreciação.

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