Nos últimos meses da segunda guerra mundial no Pacífico, a Marinha Imperial Japonesa desenvolveu o Kaiten: um torpedo kamikaze.
Kaiten
Kaiten pode ser traduzido como agitadores do céu ou virada para o céu. Foi um torpedo guiado manualmente por um piloto suicida.
Esses kamikazes são bem menos conhecidos do que os pilotos da Força Aérea Japonesa, mas assim como eles, ofereceram suas vidas pelo seu país e pelo Imperador.
Antes de entender o propósito do Kaiten é preciso compreender um pouco mais sobre a guerra do Pacífico.
A ascensão do Império Japonês
Em 1939, o Japão ainda não era um aliado militar formal dos países do Eixo encabeçados por Itália e Alemanha, mas mantinha boas relações com ambos.
Após a conquista parcial da China, o Japão mirou a Indochina Francesa que foi conquistada com facilidade. Em 1940, o governo japonês assinou o tratado com Itália e Alemanha buscando intimidar os EUA.
Apesar de ser uma grande potência, o Japão não era um país autossuficiente e dependia da exportação de uma série de minerais e recursos naturais.
Depois de conquistar a Indochina, o próximo alvo do governo japonês era as Índias Orientais Holandesas. Isso levou os EUA criarem um embargo de combustíveis ao Japão por sua agressividade na região.
Logística impraticável
Com o embargo vigorando em 1941, o governo calculou que sem o fornecimento de combustível, o Japão ficaria sem o recurso em aproximadamente dois anos.
Mesmo com a conquista das Índias Orientais Holandesas e da Malásia Britânica (que forneceriam ferro, petróleo e outras matérias-primas essenciais), havia um problema.
As Filipinas que eram controladas pelos EUA não permitiam que essas matérias-primas fossem enviadas para o Japão. Esse empecilho logístico levou ao planejamento do ataque ao Pearl Harbor.
O sucesso e a tragédia de Pearl Harbor
O ataque japonês a base naval de Pearl Harbor é considerada um dos mais impressionantes ataques coordenados da história.
E apesar do aparente sucesso da missão, ela não foi suficiente para dar ao Japão uma vantagem significativa em relação aos estadunidenses.
Esse ataque foi planejado para que as Filipinas pudesse ser conquistada e fornecesse ao Japão as matérias-primas que necessitava para continuar sua campanha de supremacia no Pacífico.
Porém, a recuperação da armada dos Estados Unidos foi mais rápida do que os estrategistas japoneses imaginavam.
Midway: o começo do fim
A partir de 1943, o Japão começou a sofrer uma série de derrotas catastróficas. As principais foram a batalha de Midway e a batalha do Mar de Coral.
Outras batalhas em ilhas estratégicas, como a Batalha de Saipan e Iwo Jima foram cruciais para sufocar militarmente e economicamente o Império Japonês.
Entre esses dois acontecimentos aconteceu o maior conflito naval da história da humanidade, a batalha das Filipinas em 1944.
Com todas essas campanhas perdidas, ficou claro que a derrota do Japão era uma questão de tempo. Isso levou os comandantes japoneses ao desespero.
Kaiten: a esperança desesperada japonesa
Após percas materiais e humanas irreparáveis para as forças japonesas, uma ideia desesperada para barrar o avanço da armada dos EUA foi criada: um torpedo humano.
O projeto foi desenvolvido pelos tenentes da Marinha Imperial Hiroshi Kuroki e Sejio Nishina. Esse torpedo humano era basicamente um mini submarino com explosivos.
Assim como os kamikazes no céu, os pilotos do kaiten deveriam atacar navios inimigos para minar a capacidade naval dos EUA e cortar sua rede de suprimentos.
Embora o projeto tenha criado aproximadamente seis protótipos da arma, apenas uma entrou em serviço, o Kaiten Type-1.
Alguns projetos tinham um escotilha para que os pilotos saíssem do kaiten antes que ele explodisse. Porém, nenhum operador utilizou de fato, nem mesmo nos treinamentos.
Treinamento e voluntários
O treinamento para manusear o artefato bélico era extremamente perigoso dado os obstáculos exigidos pelos oficiais.
Tanto o tenente Kuroki, quanto o tenente Nishina sabiam que para testar essa nova arma, um deles acabaria morto.
Cerca de 15 voluntários morreram durante o treinamento (inclusive um dos desenvolvedores do projeto, o tenente Hiroshi Kuroki).
Além disso, todos os pilotos que participaram do projeto kaiten eram jovens japoneses de 17 a 28 anos fiéis ao país e ao Imperador.
Não era necessário experiência, pois os comandos eram relativamente simples, ainda que a pressão para controlar o artefato e manter os instrumentos fosse alta.
Porém, é preciso ressaltar que a noção de dever com a pátria e lealdade para com o Imperador entre os voluntários foi surpreendente.
Um dos pilotos de katein, Taro Tsukamoto escreveu em seu testamento antes de ir para a missão suicida: “Não devo esquecer que, em primeiro lugar, sou um japonês… Que meu país floresça para sempre. Adeus a todos”.
Eficiência
Diferente do que esperavam os oficiais da Marinha Imperial Japonesa, a nova arma não foi capaz de mudar o equilíbrio militar do Japão em relação aos EUA.
Na verdade, houveram poucos ataques bem sucedidos. Entre eles, o principal foi o ataque ao USS Mississinewa liderado pelo tenente Sejio Nishina (que levou as cinzas de seu companheiro Hiroshi Kuroki no ataque).
Além disso, o kaiten possuía uma série de problemas técnicos e limitações. Portanto, era uma arma relativamente inútil.
Afinal, por não ter muita capacidade de locomoção, precisavam ser levados por submarinos para serem lançados.
Com isso, uma série de submarinos japoneses foram destruídos ou danificados. Segundo estimativas oficiais, aproximadamente, 800 marinheiros perderam a vida para levar os torpedos próximos ao inimigo.
Leia também
Histórias emocionantes de soldados japoneses da Segunda Guerra Mundial
Quatro filmes sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial para maratonar
Rendição na II Guerra do Japão ainda causa debates
Hoje em dia, o Kaiten Memorial Museum localizado em Shunan, prefeitura de Yamaguchi e local de treinamento dos pilotos possui um acervo com as últimas palavras dos pilotos.
Os áudios estão sendo digitalizados e permitem a toda uma geração uma oportunidade de ouvir as vozes do passado.
Taro Tsukamoto, um piloto de kaiten citado no texto tem suas últimas palavras registradas no Museu. Sua irmã, Yusaku Tsukamoto teve a oportunidade de ouvir a voz de seu irmão mais velho.
Para mais informações sobre o museu, acesse: http://www.visit-jy.com/en/spots/12926
Compartilhe! Clique aqui e receba nosso conteúdo exclusivo pelo Facebook Messenger.