Nos últimos anos, as universidades registraram um aumento significativo de pessoas dispostas a doarem seus corpos para estudos em uma prática chamada Kentai.
Isso reflete uma mudança considerável na cultura do país, afinal, a escola zen de budismo japonês vem de uma tradição onde danificar o corpo após a morte é um ato impuro.
A anatomia no passado japonês
Devido aos preceitos budistas zen do Japão era muito difícil conseguir corpos humanos para o estudo de anatomia e dissecação.
Por isso, os únicos objetos de estudo eram pessoas sem família ou indivíduos que faleceram e não foram identificados, ou seja, os indigentes.
Porém, para George Matsumura, professor de anatomia da Universidade de Kyorin, a relação dos japoneses com a morte mudou nos últimos anos.
Kentai
Desde 1985, a associação Tokushi Kaibo Zenkoku Rengokai, trabalha no Japão incentivando a doação de corpos para a universidade, uma prática conhecida como kentai.
De acordo com a associação, desde que as campanhas começaram houve um aumento de aproximadamente 8 mil voluntários ao ano.
Só em 2018, aproximadamente, 296 mil cidadãos japoneses ofereceram seus corpos às universidades do país. A demanda aumentou tanto que algumas universidades pararam de aceitar voluntários.
Outro fator que contribuiu para o aumento de voluntários foi o grande terremoto de Tohoku de 2011 e a quantidade de desastres naturais que afetaram o Japão.
Segundo George Matsumura, que também é diretor executivo do Tokushi Kaibo Zenkoku Rengokai, ter presenciado a morte de amigos e familiares fez com que a população repensasse em como querem terminar suas vidas.
Importância para os estudos
Todos os anos, cerca de 4 mil corpos são dissecados em 98 universidades japonesas. Além disso, muitos também são utilizados para a prática de cirurgias.
Embora algumas pessoas acreditem que seja possível utilizar bonecos ultrarrealistas para o estudo do corpo humano, Tatsuo Sakai, professor de anatomia da Universidade de Juntendo discorda.
Para o professor, um corpo humano gera um impacto necessário para os futuros médicos. Além disso, os alunos aprendem o que não é possível apenas com livros.
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Os voluntários
Muitas pessoas querem contribuir com algo benéfico para a sociedade mesmo após a morte.
Um vonluntário (kentai), Katsuhiko Takemura, 77 anos, afirmou em entrevista ao Japan Today que após a morte de Akiyuki Nosaka, autor do romance Túmulo dos Vagalumes começou a repensar no seu fim.
Takemura disse que ficou impressionado ao ver que após ser cremado, o grande escritor não era nada além de ossos. Isso o fez querer doar seu corpo para que médicos e cirurgiões possam responder suas perguntas.
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