Ultimamente alguns templos budistas do Japão estão buscando na tecnologia uma forma de atrair mais seguidores. O templo Kodai-ji em Kyoto é um desses casos.
No começo de 2019, um robô chamado Mindar baseado na figura de Kannon, a deidade de misericórdia e compaixão está realizando cerimônias.
Embora o monge artificial ainda possua uma aparência rudimentar, ou seja, com suas partes mecânicas a mostra, é capaz de mover os braços e tronco de forma autônoma.
Apesar de alguns críticos compararem Mindar ao monstro de Frankenstein, há grandes expectativas para o projeto do templo.
Monge robô
De acordo com Tensho Goto, sacerdote do templo Kodai-ji, as principais queixas da utilização de robôs prestando serviços espirituais foram de estrangeiros ocidentais.
Segundo o monge, os japoneses não possuem preconceitos em relação aos robôs, pois a cultura do país os ensinou que os androides são amigos e servem a propósitos positivos.
Ele pondera e reflete. A resistência pode estar ligada com a cultura cristã, afinal, uma máquina não possui uma alma.
Porém, o budismo trata (antes de qualquer coisa) de seguir os passos de Buddha Sakyamuni e não a devoção a um Criador ou deidades.
Além disso, Buddha nunca tratou sobre a existência ou não de um Deus-Criador em seus ensinamentos.
Sua vida foi dedicada na busca da compreensão e erradicação do sofrimento de todos os seres sencientes. Todos seus ensinamentos estão baseados nessa premissa.
Ferramenta para ajudar
Por isso, um robô que recite sutras e passe os ensinamentos de Buddha não são tão diferentes de um livro budista, por exemplo. O robô é mais uma ferramenta para ajudar as pessoas a se livrarem de seus sofrimentos.
Expectativas
Por hora, o projeto Mindar é limitado em seus movimentos e programação. No entanto, é esperado que a inteligência artificial possa ajudá-lo a obter sabedoria ilimitada.
Nas palavras de Tensho Goto em entrevista a AFP: “Esse robô nunca morrerá, apenas continuará se atualizando e evoluindo”.
E continua: “Essa é a beleza de um robô. Ele pode armazenar o conhecimento para sempre e sem limites. Com a inteligência artificial, esperamos que ele cresça em sabedoria para ajudar as pessoas a superarem seus problemas mais difíceis”.
Além da capacidade de armazenamento de informações, outro objetivo é atrair mais jovens para a sabedoria que o budismo oferece.
De acordo com o monge, para muitos jovens japoneses os templos budistas são sinônimo de casamentos ou funerais. Algo que precisa ser mudado e o projeto Mindar pode mudar essa realidade.
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Apesar dos críticos ocidentais e dos fiéis mais tradicionais, a impressão do robô Mindar pela público mais jovem foi positivo.
A direção do templo Kodai-ji afirma que a deidade Kannon pode se transformar conforme sua vontade e o robô nada mais é do que sua última “encarnação”.
Além disso, os monges do templo consideram lógico que Buddha se tornasse um robô graças aos avanços tecnológicos da inteligência artificial.
Enquanto os fiéis mais tradicionais enxergam o projeto como um sacrilégio com as deidades e com o próprio Buddha, Tensho Goto afirma que a tecnologia está transformando o budismo.
Porém, a aliança entre tecnologia e o budismo não desviou a religião de sua função exercida a mais de dois mil anos. A de ajudar as pessoas a superarem seu sofrimento e, se possível, atingir a iluminação.
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