Filha do diplomata Toyoichi Nakamura e bisneta do ex primeiro ministro japonês Tsuyoshi Inukai, Sadako Ogata foi a primeira mulher a ocupar o cargo de Alta Comissária da ONU Para Refugiados.
Além disso, foi a primeira acadêmica e cidadã japonesa a ocupar tal posição. Mas foi sua atuação frente a comissão que a destacou e estabeleceu um novo conceito na gestão de crises.
Salvou vidas, negociou diretamente com membros de facções e interveio em grandes conflitos mundiais.
Ia para as regiões de conflito, visitava refugiados e se interessava pelo que as pessoas tinham a dizer antes de tomar suas decisões. Sua força, empatia, inteligência e coragem são admiradas e foram importantes na história de diversos países.
A história de Sadako Ogata
Nascida em 1927 em Minato (Tokyo), Sadako Ogata viveu muitos anos em outros países, como EUA, China e Finlândia por conta do trabalho de seu pai.
Quando ela tinha 5 anos (1932), seu avô, o ex primeiro ministro do Japão foi assassinado por soldados rebeldes em uma tentativa frustrada de golpe de estado.
Ela estudou nos EUA onde se tornou mestra pela Universidade de Georgetown e doutora pela Universidade da Califórnia.
Antes de trabalhar nas Nações Unidas, foi professora na Sophia University em Tokyo e se tornou reitora de estudos estrangeiros em 1989.
Além disso, também foi enviada especial do Japão para a reconstrução do Afeganistão após uma guerra civil de 10 anos envolvendo diretamente a antiga União Soviética e indiretamente os EUA, China, Irã, Paquistão, Reino Unido, Arábia Saudita e Alemanha Oriental.
Década turbulenta – Oriente Médio
Sadako Ogata assumiu o posto de Alta Comissária em 1991, ou seja, durante um dos momentos mais conturbados da história da humanidade.
No mesmo ano a URSS se desintegrou. Com o colapso soviético, Moscou reconheceu a independência das outras 14 repúblicas que formavam o império soviético.
Algumas semanas depois de assumir o cargo, enfrentou uma das maiores crises humanitárias da década de 90 com milhões de refugiados da guerra do Golfo.
Não se sabe exatamente quantas pessoas morreram no confronto. Estima-se que até 250 mil pessoas tenham sido vitimadas pela guerra.
No entanto, a atuação de Sadako para coordenar os esforços internacionais para realocar os refugiados impressionou.
Guerra civil da Bósnia-Herzegovina
No ano seguinte, 1992, eclodiu a guerra civil da Bósnia-Herzegovina, um dos episódios mais trágicos dos tempos modernos.
Comissária do capacete branco
Foi então que Ogata ficou reconhecida como a Comissária do capacete branco. Ela colocava a proteção na cabeça e ia para as zonas de confronto.
Embora tenha visitado os campos de refugiados no Oriente Médio, foi na antiga Bósnia-Herzegovina que seu trabalho chamou a atenção da mídia mundial.
O confronto marcado pela limpeza étnica é uma mancha na história da ONU em duas circunstâncias.
O Massacre de Srebrenica
Conhecido como O Massacre de Srebrenica (11 a 25 de julho de 1995), a região havia sido declarada como segura e sob a proteção das forças de paz da Onu.
No entanto, as forças da ONU contavam com apenas 370 soldados. Quando militares sérvios e paramilitares conhecidos como Escorpiões chegaram na região, os soldados da ONU sequer tentaram impedir o avanço dos sérvios.
Cerca de 8.500 pessoas foram assassinadas. Em 2004, o Tribunal Penal Internacional de Haia também considerou o estupro de aproximadamente 30 mil mulheres, crianças e idosas como vítimas do genocídio.
O massacre teve fim quando a OTAN realizou um bombardeio indiscriminado em Srebrenica. Algo que os locais não esquecem ou perdoam até os dias de hoje.
Apesar da falha gigantesca da ONU, Sadako visitava frequentemente os campos de refugiados, conversava com os afetados pela guerra e intermediava conflitos.
Grandes Lagos Africanos
A descolonização dos países africanos aconteceu em períodos muito recentes da história. Como resultado do fim da colonização, uma série de guerras na região dos Grandes Lagos Africanos eclodiram.
A região dos Grande Lagos compreendem Etiópia, Quênia, Tanzânia, Uganda, Congo, Ruanda, Burundi, Malawi e Moçambique.
Esses países enfrentaram tantas guerras e genocídios durante década de 90 que a história concebeu o período como A Guerra Mundial da África.
Visitas e negociações
Ogata acompanhava de perto e realizava visitas constantes na região para ouvir os refugiados e suas demandas.
Só depois de ouvir o que os deslocados pela guerra diziam é que negociava com os líderes das facções.
Até hoje não se sabe quantos morreram na Guerra Mundial Africana. Para se ter uma ideia, o genocídio de Ruanda em 1994 matou um número estimado de 800 mil pessoas em apenas 4 meses.
Porém, corpos e valas comuns são encontrados todos os anos, inclusive, nos dias de hoje. Só na segunda guerra do Congo (conhecida como Guerra Mundial Africana envolvendo 8 nações africanas dos Grandes Lagos), estima-se que cerca de 3,8 milhões de pessoas tenham morrido.
Atuação fundamental
Apesar de ser apenas Comissária para refugiados, Sadako fez muito mais do que o esperado para o cargo.
Negociou pessoalmente e conseguiu alguns acordos com os líderes militares para criar corredores humanitários e evacuar pessoas das zonas de confronto.
Salvou vidas
O trabalho de Sadako Ogata foi tão importante que não há nenhum especialista que tenha conseguido estimar quantas vidas foram salvas graças a sua atuação.
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Falecimento
Ogata faleceu no dia 29 de outubro de 2019 aos 90 anos na sua cidade natal, Tokyo. A comunidade diplomática lamentou sua morte e seu nome entrou em evidência pelos jornais japoneses e internacionais.
Respeito e admiração internacional
O nome de Sadako Ogata é bem conhecido no meio diplomático. Membros do governo japonês, como o primeiro ministro Shinzo Abe e o secretário-chefe de gabinete Yoshihide Suga expressaram seu pesar pela morte da comissária.
Vale ressaltar que Sadako não poupou críticas ao seu próprio país por receber tão poucos refugiados.
Nas Nações Unidas ficou conhecida como uma gigante por suas capacidades intelectuais e habilidade surpreendente para negociar e lidar com situações extremas.
Atuou no mais alto comando do órgão entre 1991 e 2000. Em 2001 ganhou o Prêmio Indira Ghandi e em 2002 recebeu o Prêmio J. William Fulbright de Entendimento Internacional.
Milhões de pessoas puderam reconstruir suas vidas graças a dedicação da primeira mulher e a primeira cidadã japonesa no mais alto posto para refugiados.
Apesar de sua morte, seu trabalho e sua obra seguirão vivos, tanto na ACNUR, quanto nas vidas que foram salvas por seu trabalho.
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