Durante o período Azuchi-Momoyama, um homem inglês chamado William Adams – que ficaria conhecido posteriormente como Miura Anjin – foi um dos raros estrangeiros que foram decisivos na história japonesa.
Ao longo da história, o Japão sempre se conservou uma sociedade homogênea. Porém, algumas exceções aconteceram no percurso e alteraram significativamente a história do país.
Embora outros samurais estrangeiros, como o africano Yasuke e o francês Jules também foram aceitos pela elite política e militar japonesa, Miura Anjin se destacava.
William Adams – Miura Anjin
Nascido em 24 de setembro de 1564 em Gilligham, Inglaterra, William Adams era filho de uma família abastada e teve uma infância consideravelmente confortável dado aos padrões de seu tempo.
Mas com a morte do pai aos 12 anos, Adams viu o patrimônio de sua família praticamente desaparecer. Já nessa idade se tornou aprendiz de Nicholas Diggins, mestre da construção de embarcações.
Naquela altura, o jovem precisava de uma fonte de renda para sustentar sua família e o comércio marítimo era uma das melhores opções para conseguir dinheiro.
Formação
Durante o tempo que passou como aprendiz de Diggins, William Adams aprendeu matemática, construção de navios, navegação em mar aberto e ler as estrelas.
Apesar de seu temperamento rebelde, Williams foi um excelente discípulo e dominou todo o conhecimento de seu mestre em poucos anos.
Aos 24 anos lutou sua primeira batalha como piloto na frota de Sir. Francis Brake contra a Invencível Armada Espanhola em 1588 que tentou subjugar os protestantes do país e depor a rainha Elizabeth I.
Lutou com excelência em meio a fumaça das embarcações em chamas. Seis anos mais tarde aos 30 anos, Adams se tornou um mestre dos mares.
Promessa de riqueza
Apesar da sua posição e condição financeira, William Adams buscava mais riquezas e nutria o desejo compartilhado dos holandeses em quebrar a supremacia marítima portuguesa e espanhola e ocuparem o lugar (Holanda e Inglaterra).
Após entrar em acordo com os holandeses, Adams partiu com uma frota para a América do Sul em 1598 saqueando todas as posses possíveis dos espanhóis e portugueses.
Durante a viagem, a frota foi pega por uma tempestade na costa africana. Como resultado, duas embarcações desapareceram.
Depois de saquearem o extremo sul da América e seguir viagem rumo ao pacífico, uma embarcação se perdeu do grupo próximo a linha do Equador e desapareceu.
Além dessas dificuldades, o contato com as populações nativas da América Central nem sempre eram pacíficas.
Em um episódio, 20 comerciantes (incluindo o irmão de Williams, Thomas) foram mortos em confronto com as tribos aborígene. Ao voltar para o mar, as coisas só pioraram.
O caminho para a Terra do Sol Nascente
Embora abalado pela morte do irmão, Adams se manteve focado e convenceu a tripulação holandesa a navegar rumo ao Japão.
Tanto William quanto os holandeses souberam da existência do país com os pertences de um navio português roubado antes da missão.
A longa viagem provou ser ainda mais difícil do que a primeira. Nas ilhas que aportavam no caminho, presumivelmente o Hawaii, desertores fugiam.
No entanto, esses homens foram capturados por tribos canibais da região. Como se não bastasse, um tufão afundou mais um navio no caminho para o Japão.
Apesar da embarcação de Adams ainda estar intacta, a tripulação estava no limite. Um dos homens foi ao depósito de armas para explodir o navio com a pólvora e acabar com o sofrimento de todos.
Porém, no último momento William Adams foi capaz de detê-lo. Depois de 2 anos de viagem Adams chegou em Kyushu em abril de 1600.
Da frota que partira da Holanda, apenas um dos cinco navios chegaram ao seu destino e somente 23 dos 500 membros da tripulação sobreviveram a viagem.
A chegada
William Adams foi o primeiro inglês a pisar no Japão quando desembarcaram na pequena vila de Bungo. Ele e mais oito homens que ainda eram capazes de se mover receberam comida e saquê da população local.
Quando o daimyo da região chegou estava acompanhado de um tradutor jesuíta. Ao ver um protestante em terras japonesas, o português disse ao daimyo para executar aqueles homens por pirataria.
Adam foi preso após discutir com o padre. Enquanto estava preso, a notícia de que um homem bárbaro de cabelos dourados e olhos amarelos estava no Japão se espalhou.
Eram homens diferentes dos portugueses e aparentemente cultivavam ódio uns pelos outros. Não demorou até que esses rumores chegassem ao ouvido de Tokugawa Ieyasu.
Intrigado com a notícia, Tokugawa viu nesses bárbaros estrangeiros uma oportunidade valorosa e ordenou que fossem levados a sua presença.
Admiração
Adams e seus companheiros foram escoltados pela baía de Osaka. Durante a viagem, William ficou maravilhado com a civilização japonesa.
Asmirou as construções, arquitetura, beleza e harmonia. Mas foi o castelo de Osaka que mais impressionou o inglês.
O primeiro encontro
Em maio de 1600, o inglês William Adams ficou diante de Tokugawa Ieyasu. Durante o encontro Tokugawa fez perguntas ao estrangeiro com o auxílio de um tradutor português.
Adams contou sobre seu país, seu povo e as guerras que a Inglaterra travou contra os portugueses e espanhóis.
Quando Ieyasu perguntou sobre sua religião, a resposta do inglês o fez perceber que os católicos mentiram sobre serem a única religião da Europa e que havia povos rebeldes ao poder do Papa.
Aproximação
William Adams e Tokugawa Ieyasu se encontraram novamente em diversas ocasiões. Tokugawa via os portugueses como uma ameaça ao Japão e queria conhecer melhor os cristãos católicos.
O shogun também ficou impressionado ao perceber o nível de instrução de Adams e viu nele uma oportunidade para expulsar os portugueses.
No entanto, naquela ocasião existia uma dependência do Japão com o comércio com os portugueses.
O período Edo
Após a batalha de Sekigahara e Tokugawa Ieyasu se tornar o Shogun, Adams desejou voltar para a sua esposa e filho na Inglaterra.
Porém, o inglês era muito valioso para ir embora, então seu pedido foi rejeitado pelo shogun. Para assegurar a lealdade de Adams, Tokugawa o transformou em samurai de alto nível.
Como presente recebeu duas katanas, oito servos e um feudo com aproximadamente 100 fazendas na península de Miura.
Servo leal
William Adams foi um servo leal e fiel a Tokugawa Ieyasu. Em 1604 construiu uma armada com cerca de 200 embarcações e se tornou seu principal assessor para assuntos estrangeiros.
Além disso, se tornou o principal tradutor do shogun no lugar dos cristãos portugueses. Adams ficou conhecido como Miura Anjin, e ao ocupar essa privilegiada posição, Tokugawa declarou:
“William Adams está morto. O samurai Miura Anjin acaba de nascer.”
Miura Anjin assumiu sua nova vida e casou-se com uma mulher japonesa chamada Oiyuki, tiveram um filho e formaram uma família.
A expulsão dos portugueses
A partir de 1609, Miura Anjin começou a negociar com os holandeses para que eles estabelecessem uma zona comercial no país para quebrar o monopólio dos portugueses.
Quando Ieaysu expulsou todos os cristãos portugueses e todos os católicos do Japão em 1619, foi uma ordem baseada e influenciada diretamente pelo conselho de Miura Anjin.
Além do shogun, ele também era inimigo dos católicos e desejava expulsá-los de seu novo país.
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Morreu aos 55 anos em Hirado, Nagasaji no ano 1620. A seu pedido, seus bens foram divididos entre sua família japonesa e sua família inglesa.
Sua presença no Japão alterou drasticamente o rumo da história japonesa. Quando o país se isolou do mundo em 1633, os únicos estrangeiros permitidos eram os holandeses, fruto do trabalho do samurai inglês e conselheiro do shogun que viveu um grande epopeia.
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