Tetsu Nakamura: conheça a trajetória e história do herói japonês

Tetsu Nakamura, 73 anos, foi morto no Afeganistão em ataque com tiros na manhã do dia 04 de dezembro quando ia trabalhar.

Segundo The New York Times, cinco membros de sua equipe morreram incluindo dois passageiros, seu guarda costas e o motorista.

Carro atacado de Tetsuo
Carro atacado de Tetsuo

O médico era cidadão honorário no Afeganistão, se empenhava em ajudar outras pessoas e fazia parte da organização Peace Japan Medical Services (PMS).

O ataque ocorreu na província de Nangarhar quando Nakamura estava indo em direção a capital Jalalabad. Segundo Attaullah Khogyani, representante do governador da província, Nakamura ficou seriamente ferido e estava em condições críticas.

Passou por cirurgia em hospital local, mas não resistiu e morreu quando estava a caminho do aeroporto para ser levado a uma instalação médica na base aérea americana em Bagram.

Por enquanto, ninguém assumiu a autoria do atentado e o Taliban negou ter tido participação. A polícia informou que investigações estão em curso, mas ataques como esse estão frequentes nas últimas semanas com alvo em missionários e humanitários.

Tetsu Nakamura

Tetsu atendendo pessoas

Nascido em Fukuoka, começou a trabalhar como médico no Paquistão em 1984 tratando lepra. Sua paixão por insetos o levava até a fronteira do Afeganistão por ser uma região montanhosa. Quando ia era requisitado para ajudar com seus conhecimentos médicos.

Abriu clínicas

Depois de se formar, estabeleceu clínicas em Peshawar onde tratava os locais e refugiados do Afeganistão por conta da guerra soviética. Então, abriu três clínicas em Nangarhar também.

Seca devastadora

Logo percebeu que exercer sua profissão não seria o suficiente. Em 2000, o Afeganistão passava por uma intensa seca.

Durante esse período, Nakamura viu muitas pessoas morrendo, muito mais do que ele conseguia salvar nas suas clínicas e isso o deixava muito comovido.

Seus esforços não eram o suficiente e a maioria das doenças eram causadas pela falta de água potável e desnutrição.

Aprendeu a falar a língua local pashto e chegou a cavar poços para tentar encontrar água, mas sem sucesso. Afirmou ao NHK na época: ‘’Fome, sede. Medicina não resolve esses problemas”.

Sistema de irrigação com canais

Então, decidiu ir além e passou a ajudar a implementar um sistema de irrigação baseado nos existentes de sua cidade natal (Fukuoka) para fornecer água e comida através da agricultura. Era a solução que tinha encontrado e isso melhoraria a vida das pessoas.

Seus conhecimentos em irrigação japonesa com uso dos recursos da região ajudaram a adaptar e conseguir fazer canais para mudar o fluxo do rio Kunar e direcioná-lo para as áreas de seca.

Desenhou sozinho um planejamento baseado nos livros japoneses e colocou seu plano em prática. Fez tudo na base da tentativa e erro.

Afegãos cavando canal

Com a ajuda de antigos fazendeiros e outras pessoas da região (que passaram a ter um trabalho), Nakamura construiu o canal Marwarid lado a lado com os homens e um sistema de barragem eficiente feito de arame e pedras que poderia ser mantido pelos locais.

Gerou uma comoção entre as pessoas e todos queriam ajudar a construir os canais, já que beneficiaria a todos. Homens viajavam longas distâncias.

Escavando pedras

Custeou as obras e pagou os trabalhadores com ajuda financeira da organização que participava (PMS), do governo japonês e da agência de cooperação internacional (JICA).

tetsu conversando com mais dois homens

Então, em 2008, seu amigo Kazuya Ito foi sequestrado e morto no país. Tetsu Nakamura ficou muito abalado, mas se comprometeu em continuar seu trabalho no Afeganistão.

Durante seis anos liderou uma força tarefa e conectou o rio Kunar com um canal de 24 quilômetros com as áreas de seca. Depois continuou trabalhando para irrigar quatro distritos.

1 milhão de pessoas e 60.000 acres

Segundo as autoridades de Nangarhar, ele melhorou a qualidade de vida de 1 milhão de pessoas e ajudou a irrigar 60.000 acres de terra árida.

 

Terra árida do Peshwar
Antes dos canais
Solo com grama e vegetação
Depois dos canais

Devolveu vida e paz

Shampur e Gamberi antes e depois

200 mil árvores foram plantadas e o solo árido do deserto Gamberi voltou a ser fértil sustentando a vida das pessoas da região.

foto de região seca e depois com vegetação

Trabalho, bem-estar, água, comida, qualidade de vida e a paz retornou ao local como consequência.

Os afegãos não precisavam mais arranjar trabalho como mercenários e passaram a não apelar mais para a violência para sobreviver, pois voltaram a trabalhar com agricultura e suas famílias puderam voltar a viver juntas.

Na época, Tetsu Nakamura disse que um médico ajuda apenas uma pessoa por vez, mas isso (canais) ajudam uma vila inteira.

Depois desse projeto, ainda ajudou a construir uma mesquita com biblioteca e salas de aula com capacidade para 8.000 pessoas. No local, as crianças recebem ensino de graça e os afegãos podem rezar.

Para a NHK, ele contou que essa construção foi tão importante quanto os canais. Depois da ocupação americana e a seca, eles não conseguiam mais exercer sua fé e isso significava muito para eles.

Queria ensinar seus conhecimentos

Seu próximo projeto era ensinar sua técnica para que mais pessoas fossem habilitadas a fazer o sistema de canais e levar prosperidade para outras regiões.

Humilde, contou ao NHK que seus esforços tinham sido apenas uma extensão de sua profissão, que era salvar vidas.

Era muito querido e respeitado. Por isso, sua morte foi lamentada no Afeganistão e pela comunidade internacional. Na internet teve milhares de homenagens nas redes sociais e as pessoas estão exigindo justiça.

Afegãos acendem velas e faixa em homenagem a Tetsu

Além disso, em outubro, tinha sido o primeiro estrangeiro a receber das mãos do presidente afegão Ashraf Ghani cidadania honorária por todo o seu trabalho no país.

Hamidulah Hashemi, morador de Khewa, um distrito de Nangarhar sentiu sua morte como se fosse a de um familiar.

Afirmou que o médico era um líder, devolveu o sentido a existência e ajudou a construir suas terras. Tanto que a população não o tratava mais como estrangeiro, mas como um afegão de coração e herói.

Compartilhe! Clique aqui e receba nosso conteúdo exclusivo pelo Facebook Messenger.