Saimyouji, em Saitama, torna-se o segundo templo budista conhecido no Japão a promover abertamente casamentos LGBTQIA+, seguindo o exemplo do templo Shunkoin de Kyoto.
No Japão há templos e santuários em praticamente todo lugar. Apesar disso, menos de 40% da população japonesa se identifica com alguma religião, sendo que a maioria deles se afirma budista.
Atualmente, pode-se dizer que os templos budistas operam mais como negócios do que como local para receber orientação espiritual. Ao contrário do budismo na Índia, onde a religião se originou, o budismo japonês é mais conhecido como “budismo fúnebre”, pois em muitos casos apenas os serviços funerários estão disponíveis ao público.
O templo Saimyouji, em Kawagoe, Saitama-ken, com uma história de quase 800 anos pretende se destacar do resto graças aos esforços de seu recém-nomeado sacerdote chefe Senda Akihiro.
Senda Akihiro, 57º sacerdote-chefe de Saimyouji, passou dois anos na Índia estudando e praticando o budismo sob a orientação de seu mentor indiano antes de herdar o templo de seu pai.
“Quero abrir meu templo para todo mundo, seja japonês ou estrangeiro”, diz Senda em entrevista ao site Tokyo Weekender. “O objetivo de todas as religiões, incluindo o budismo, é ajudar as pessoas.”
Um templo para todos
Até agora, Saimyouji não oferecia o serviço de celebração de casamentos a pessoas que não estavam ligadas ao templo, mas isso deve mudar a partir deste mês. Isto porque a partir de 1º de abril o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi reconhecido legalmente na província de Saitama, juntamente com outros 12 municípios japoneses. Até então apenas a província de Ibaraki, Osaka e outros cerca de 30 municípios japoneses reconheciam o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Aproveitando a onda, Senda começará a oferecer casamentos para casais não ligados ao templo, independentemente de sua orientação sexual, religião ou etnia.
Dado o tamanho do templo, Senda teme que não possa oferecer cerimônias para casamentos grandes, mas espera que muitos casais aproveitem a oportunidade para realizar suas cerimônias lá.
Assim, Saimyouji torna-se o segundo templo budista no Japão a promover abertamente casamentos LGBTQIA+, seguindo o exemplo do templo Shunkoin em Kyoto.
Vale lembrar que o budismo japonês não menciona casamentos LGBTQIA+ e não os proibe.
“Se um monge recusa oferecer serviços de casamento para casais LGBT, é porque eles, como indivíduos, são contra”, diz Senda.
Os casais LGBTQIA+ tendem a não escolher casamentos budistas, seja porque os casamentos sofisticados nas igrejas são a tendência, ou porque eles simplesmente não sabem que podem. Com o site online, Senda espera que os casais LGBTQIA+ fiquem sabendo sobre o templo e passem a escolhe-lo como local de casamento.
Ajudando os que estão com problemas
“Meu mentor indiano disse que o budismo japonês é um pouco estranho”, diz Senda. “‘Por que eles não pregam para pessoas vivas? Por que eles só lêem sutra pelos mortos?'”
Influenciado pelas práticas budistas na Índia, Senda começou a transformar seu templo pouco depois de voltar ao Japão em outubro de 2017. Para apoiar famílias monoparentais, ele aceita doações de guloseimas em geral, empacota-as em pequenas caixas de papelão e as distribui. Ele também aceita ajuda financeira para a mesma causa.
Seu desejo de oferecer ajuda a essas famílias decorre de sua experiência na Índia e no orfanato ao lado do templo onde estudava.
Testemunhar doenças e infortúnios também o inspirou a realizar eventos de caridade todos os anos. Depois que uma amiga faleceu de câncer de mama, ele passou a visitar pacientes com câncer de mama em hospitais.
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Promovendo o budismo
Senda, preocupado com o número cada vez menor de seguidores do budismo, criou os mascotes Saimyo-kun e Saimyo-chan que se vestem com roupas indianas tradicionais. Tais personagens foram criados com o propósito de abordar os mais jovens e promover o budismo.
Os mascotes aparecem nas mercadorias do templo, bem como em materiais promocionais. Por exemplo, nos KitKats personalizados para o dia dos namorados.
Senda também criou opções vegetarianas de produtos num esforço de aumentar a conscientização a respeito dos benefícios à saúde ao mesmo tempo em que é compatível com o budismo.
Tendo introduzido inúmeros projetos e campanha em menos de três anos, Senda não tem planos de ser complacente e tem mais projetos em andamento:
“Meu sonho é que estrangeiros e japoneses venham ao meu templo para passear e comer comida vegetariana”, diz ele. “E se casar.”
Saiba mais sobre o templo Saimyouji clicando aqui.
Fonte: Tokyo Weekender