Prisão Abashiri: alcatraz japonesa era prisão de segurança máxima

Durante a Era Meiji no Japão, uma prisão de segurança máxima foi construída em Hokkaido. O que se vê hoje em dia é o Abashiri Prison Museum. Eles reconstruíram as instalações para fazer o museu já que a verdadeira pegou fogo.

Alcatraz, Guantanamo, Ilha do Diabo e Fortaleza de São Pedro e São Paulo são alguns nomes de prisões de segurança máxima que mexem com o imaginário de qualquer pessoa. A de Abashiri não era diferente.

No entanto, apesar de toda a controvérsia foi fundamental na história do Japão. Longe de ser uma história feliz, ainda assim ajudou a fazer de Hokkaido o que é hoje.

A Restauração Meiji

Restauração Meiji

O período Meiji (1868-1912) sempre será lembrado como a Era do desenvolvimento que colocou o Japão no mesmo nível que as grandes potências ocidentais do século XIX.

Porém, o desenvolvimento do século XIX até a metade do século XX no mundo não aconteceu de forma branda e respeitando a Declaração dos Direitos Humanos estabelecida pela ONU (criada em 1947).

No Japão não foi diferente, afinal, a disputa do poder político entre o Imperador e o Shogun gerou confrontos ferozes e uma forte ruptura entre o modelo feudal e o progresso industrial.

Proibição da pena de morte

Ilustração de pena de morte do período Edo

Uma das mudanças mais significativas aconteceu em 1882, no 15° ano da era Meiji quando o Imperador proibiu a pena de morte no Japão.

Durante o período Edo, crimes hediondos eram punidos com a pena capital por decapitação. Mas essas execuções foram duramente criticadas pelas potências ocidentais, então, as penas foram minguando até serem extintas naquela época.

No entanto, essa medida criou um grande problema para o recém governo Imperial: o que fazer com os mais de 89 mil criminosos (registrados). A resposta veio em 1885.

Emishi (Hokkaido)

Durante o período Edo, Hokkaido ainda era conhecida pelo nome Emishi. Essa região era de interesse vital do novo governo Imperial.

Emishi era (e ainda é) a principal fronteira entre Japão e Rússia, porém, era uma região desértica e poucos se arriscavam por lá. Portanto, seu rápido desenvolvimento era fundamental para a estratégia de defesa do país.

Solução

Como diz o ditado brasileiro, o Imperador Meiji juntou a fome com a vontade de comer e viu em Hokkaido a oportunidade perfeita para desenvolver a região e lidar com o problema dos presos.

Vale lembrar que o país ainda vivia momentos de tensão. Muitos rebeldes ao governo Imperial e que eram leais ao shogunato se tornaram presos políticos.

Mas foram exatamente os inimigos do estado e criminosos hediondos que serviram como matéria prima e mão de obra para desenvolver a região.

Prisão Abashiri

Vista aérea da prisão Abashiri

Nenhum ser humano em sã consciência desejaria passar uma temporada na prisão Abashiri. Em toda sua história, apenas Shiratori Yoshie, também conhecido como Prison Break King (rei das fugas de prisões) conseguiu fugir do complexo prisional.

Ao total, Yoshie escapou de quatro prisões incluindo Abashiri. No entanto, o entorno da prisão era hostil e as possibilidades de sobreviver ao lado de fora eram mínimas. Por isso, Yoshie se viu forçado a voltar para a prisão onde ficou até a velhice.

Interior da prisão Abashiri
Representação da fuga de Shiratori Yoshie

Os guardas tinham receio de Yoshie e constantemente pediam para que ele não tentasse escapar em seus turnos e evitar a humilhação. No museu é possível ouvir um áudio com uma entrevista do prisioneiro famoso.

O complexo prisional foi inaugurado em 1890 e o desenvolvimento de Hokkaido começou no estilo escravocrata. Os prisioneiros faziam tudo lá dentro e serviam de mão de obra para fazer construções locais.

A vida dentro da prisão Abashiri

O principal complexo Abashiri (também existiram outros complexos em Hokkaido, como Barato, Sorachi e Kushiro) abrigava aproximadamente 630 detentos. Até 1912 era a maior prisão do Japão.

Para evitar fugas, os guardas acorrentavam um prisioneiro a outro e sua visão era limitada com um chapéu. Essa medida acabou matando vários prisioneiros das formas mais variadas e assustadoras.

Isso porque quando estavam do lado de fora e se um animal os atacasse, os presos não tinham como escapar, pois estavam todos acorrentados, além de não conseguirem enxergar direito por conta do chapeu que usavam. Era possível apenas olhar para baixo.

 

Estátuas de prisioneiros

Trabalho forçado

Para se ter uma ideia, os prisioneiros foram obrigados a construir mais de 225km de estrada ligando a cidade de Abashiri a cidade de Kitami sob maus tratos dos guardas, má alimentação e 4 a 5 horas diárias de sono.

Réplica de dormitório
Réplica de dormitório

Mortes

Estima-se que mais de 200 detentos tenham morrido de desnutrição, acidentes no trabalho, ataques de ursos, lobos e outros animais selvagens além de decapitação em tentativas de fuga.

A arquitetura da prisão foi projetada para que fosse necessário poucos guardas. Além disso, quem se arriscaria do lado de fora?

Prisão Abashiri de segurança máxima

Existiam dormitórios compartilhados e celas individuais protegidas em que os presos não conseguiam ver os rostos uns dos outros. As janelas do lado de dentro ficavam no alto para que eles não pudessem olhar para o lado de fora.

As celas da solitária tinham portas de ferro para isolar totalmente os presos, inclusive de sons. O chão era reforçado para que eles não pudessem cavar e as paredes também.

Solitária da prisão

Eles se banhavam em salas comunitárias no estilo sento e tinham apenas 90 segundos para tirar a roupa, três minutos para se lavar e três minutos para secar e sair.

Impressionou Imperador Meiji

Ilustração do Imperador Meiji

Nos dias de hoje é provável que muitas pessoas acreditem e defendam que esse modelo (campos de concentração) é o tratamento certo a infratores.

Porém, o próprio Imperador Meiji, um homem do século XIX que, como chefe de estado, precisou adotar métodos violentos para resolver certas questões, quando soube do que acontecia na prisão Abashiri cancelou o projeto apenas 4 anos depois do início.

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Hoje em dia, o Abashiri Prison Musem é uma réplica da prisão original. Um grande incêndio em 1906 destruiu a maioria dos complexos do presídio. Em 1909 a prisão foi reconstruída.

Parte importante da história do desenvolvimento de Hokkaido pelo trabalho forçado dos prisioneiros japoneses estão disponíveis aos visitantes do museu em vários documentos.

Museu

Entrada do museu Abashiri

Segundo informações da associação de turismo de Abashiri, eles oferecem um tour gratuito de 50 minutos pelas instalações em três horários: 10hs/11hs30min/14hs30min.

Endereço: 1-1 Yobito, Abashiri City, Hokkaido. O horário de funcionamento varia de acordo com as temporadas e informações mais completas podem ser obtidas pelo e-mail  [email protected] ou pelo telefone TEL +81-152-44-5849.

Preço entrada: 1.100 ienes* por adulto. Fica a dez minutos de ônibus ou carro da  estação JR Abashiri.

*Preço pode sofrer alterações sem aviso prévio.