Tatuagem no Japão: país terá que repensar proibição para as olimpíadas

Os japoneses possuem muitas etiquetas sociais e são conhecidos pela hospitalidade e educação. Porém, quando o assunto é tatuagem no Japão as coisas podem ser diferentes.

Seja estrangeiro ou japonês, qualquer marca de tinta no corpo pode ser um grande constrangimento.

Esse fato é ainda mais evidente nas entradas de onsens e piscinas onde normalmente existem cartazes avisando que os estabelecimentos não atendem pessoas com tatuagens.

Placa de proibição de tatuagens no Japão

Tatuagem, criminalização e preconceito

O problema da sociedade em relação a tatuagem no Japão remonta ao período Edo quando criminosos eram marcados com tinta na pele. Tinha marca para cada delito específico.

Quando a Yakuza surgiu no Japão durante o período Edo, os membros da organização utilizavam a arte para se identificarem e destacarem em meio a sociedade e outras organizações criminosas.

Porém, diferente do que muitas pessoas imaginam, as tatuagens no Japão são mais antigas do que o próprio estado japonês.

Além das hajichi, tatuagens tradicionais de Ryukyu (Reino das Léquias), os Ainu e os caçadores coletores da época Jomon também utilizava tatuagens como formas de arte e expressão social.

Porém, ao longo dos séculos a cultura da tinta na pele foi reprimida e suprimida com a anexação do Reino de Ryukyu (atual Okinawa) durante a era Meiji. A rejeição pelas tatuagens remontam a essa época também e foi propagada pelo Imperador Meiji.

Mudanças lentas

O Japão é um dos países que mais atraem turistas no mundo atualmente e a presença de estrangeiros no país ajuda a melhorar a visão da sociedade japonesa em relação as tatuagens.

No entanto, essa mudança é lenta. Confira alguns comentários de japoneses retirados do Twitter sobre estrangeiros com tatuagens no Japão sob diferentes pontos de vista.

“Este é o Japão, então eles devem respeitar a cultura japonesa de tatuagens representando criminosos e não querer se banhar com criminosos. Assim como respeitaríamos suas culturas se fossemos para seus países.”

“A proibição de tatuagens é uma proibição da yakuza. Não é que o Japão odeie a cultura de tatuagens de estrangeiros, apenas odiamos a yakuza.”

“Quero dizer, alguém com uma tatuagem pode simplesmente ir a uma casa de banho privado. A proibição vale apenas naqueles em que você toma banho com outras pessoas.”

Obs: Claro, esse foi um pequeno exemplo de uma pequena parcela da população em poucos comentários do Twitter reunidos para o artigo.

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Tatuagem, onsen e Yakuza

Hajichi era tradição do Reino Ryukyu em tatuar as mãos

Artigo 14

Para o jurista Keita Adachi, lojas e comércios podem se recusar a atender pessoas tatuadas por causa das convenções sociais.

Porém, o jurista prevê que dentro de alguns anos esse tipo de tratamento poderá cair no artigo 14 da constituição japonesa e a moral pública.

O artigo 14 diz que é ilegal a discriminação baseada em etnia, classe social, país de origem, gênero, orientação sexual, credo, preferência política ou econômica.

Ainda que o artigo não inclua tatuagens, para Keita Adachi isso é irrelevante porque se trata de uma discriminação baseada nos mesmos princípios.

Para além da questão legal, Keita acredita que as razões econômicas também contribuirão para um futuro mais tolerante e aberto para pessoas com tatuagens no Japão.

*Obs: essa é a opinião pessoal do jurista Keita Adachi ao canal Nico Nico News e divulgado pelo Japan Today e não significa que essa previsão ocorra ou que a lei mude nos próximos anos.

Copa Mundial de Rugby e eventos esportivos

Na copa mundial de Rugby realizado no Japão em 2019, os jogadores da Nova Zelândia do time All Blacks não se incomodaram em esconder suas tatuagens nos locais de treino em respeito a cultura japonesa por conta da associação com a yakuza.

Além disso, eles cobriam em onsens, em lobbys de hoteis, piscinas e outros locais em que o público fosse mais sensível. Nos jogos não houve restrição e eles não precisaram cobrir suas marcas.

Segundo o jogador Aaron Smith, os jogadores não se incomodavam em esconder as tatuagens para não causar ofensa aos japoneses. No demais, achavam ok, pois estavam no Japão e era uma forma de respeitar a cultura.

Aaron Smith no campo
Aaron Smith

As marcas na pele no estilo Maori são comuns na Nova Zelândia e faz parte de cultura, mas os jogadores entendiam as restrições do Japão.

O onsen Atami estava repensando a proibição com a chegada das olimpíadas Tokyo 2020, segundo a agência Kyodo News. Muitos outros estavam fazendo o mesmo no país. Os donos dos estabelecimentos ficaram incumbidos de tomar essa decisão.

Alguns colocaram horários de banho especiais em que a arte era permitida, outros distribuíram curativos para cubrir as do tipo pequenas, entre outras medidas.

Portanto, tolerância e compreensão serão aplicadas como excessão a eventos esportivos na medida do possível no Japão.

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