Sotsukon

Sotsukon: o fenômeno japonês do divórcio sem separação

Ao imaginar como seria o futuro da Terra do Sol Nascente, a escritora japonesa Yumiko Sugiyama lançou um livro em 2004 chamado Sotsukon no Susume (Recomendando a formatura do casamento).

A autora sugere a casais que se amam atinjam a plena independência para irem atrás de seus sonhos sem a necessidade de um rompimento.

A ideia trabalhada ao longo de 4 anos por Sugiyama surgiu pela ideia ultrapassada dos papéis familiares da família japonesa onde o homem é o provedor e a mulher uma espécie de empregada doméstica dependente do suporte financeiro do companheiro.

Essa estrutura familiar faliu no Japão e em muitos lugares do mundo com a entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho nas últimas décadas e mais especificamente a partir da década de 80.

Atualmente, mais de 70,7% das mulheres japonesas estão inseridas no mercado de trabalho. Elas lideram no mundo profissional a frente dos EUA e dos países membros da União Europeia + Reino Unido.

Essa profunda e abrupta mudança de paradigmas na sociedade japonesa criou diversos fenômenos, alguns positivos e outros negativos como a queda na taxa de natalidade.

Sotsukon é um exemplo de fenômeno positivo dentro da sociedade que mais rápido envelhece no mundo.

Sotsukon e suas raízes

Casal de idosos

O termo sotsukon é a junção de duas palavras japonesas para graduação e casamento, sotsugyo (卒業) e kekkon (結婚) respectivamente.

A partir dos anos 90 muitas mulheres japonesas donas de casa receavam o momento em que seus maridos aposentassem.

Com os filhos já adultos e fora de casa, o trabalho doméstico após a aposentadoria aumentaria demais, afinal, homens ajudando nos trabalhos domésticos no Japão também é um fenômeno recente e ligeiramente tímido no país.

Uma pesquisa realizada pela agência de arquitetura Interstation com sede em Tokyo descobriu que 56,8% das entrevistadas entre 30 e 65 desejavam fazer o sotsukon em algum momento.

Amor e afeto continuam

Porém, essa espécie de separação não quer dizer que não exista mais amor e afeto no relacionamento entre as partes.

Sotsukon é uma forma de correr atrás dos sonhos enquanto ainda há tempo e saúde para fazê-lo, afinal, nem todos compartilham os mesmos sonhos e objetivos na vida.

Estar junto e separado

Viver a dois, independentemente de ter filhos ou não, é uma grande aventura e um enorme desafio onde alguns conseguem se manter apaixonados e outros não.

Estudos de 2017 realizados pelo National Institute of Population and Social Security Research (IPSS) revelou que 47,2% dos homens e mulheres casados não tinham mais relações sexuais.

Além disso, 35,2% dos homens casados acima de 40 declararam que ter relações sexuais era um incômodo em comparação a 22% das mulheres pesquisadas (solteiras e casadas).

Reatar a paixão

Para essas pessoas a opção de flexionar o matrimônio pode ser a solução para evitar uma enorme dor de cabeça envolvendo advogados e tribunais, além da possibilidade de reatar a paixão entre ambos.

Uma entrevistada pela agência Interstation afirmou que ama seu marido e que viver junto tem suas garantias, no entanto, viver separados pode fazê-los se apreciarem ainda mais.

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Flexibilidade

Uma das coisas mais interessantes sobre o sotsukon é a flexibilidade que muitos casais encontraram para manterem um relacionamento ao mesmo tempo em que procuram se dedicar aos sonhos e hobbies.

Algumas pessoas optam por viver juntos, mas sem a responsabilidade tradicional. Vivem como se fossem colegas dividindo um imóvel.

Outros vivem em seus próprios espaços sem ter que dar satisfação de suas vontades e desejos mais e se encontram como namorados.

Exemplo

Um exemplo interessante de sotsukon é o caso do casal Yuriko Nishi e Yoshihide Ito. Yoshihide trabalhou durante décadas como cinegrafista em Tokyo.

Quando se aposentou, disse a Yuriko que gostaria de voltar para sua cidade natal na província de Mie para realizar o sonho de se tornar um produtor de arroz.

Já Yuriko queria continuar sua carreira de estilista de moda em Tokyo. A época da entrevista para a CNN, o casal adotou o sotsukon.

Ele a visitava uma vez por mês na capital e ela viajava semanalmente para Mie para visitar seu companheiro. A distância e falta fazem cada encontro ser único.

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