A tradicional cultura do selo Hanko está em risco de deixar de existir.
Apesar da imagem de alta tecnologia do Japão no exterior, às vezes há uma surpreendente falta de tecnologia moderna, especialmente nos negócios. Muitos escritórios ainda dependem de aparelhos de fax e demoram a tirar o máximo proveito da tecnologia da Internet.
Embora as condições estejam melhorando, outros avanços, como pagamentos digitais, também ficam para trás em comparação com outros países “menos desenvolvidos”.
No entanto, a pandemia do COVID-19 deu um jeito de agitar as coisas. Com o estado de emergência atualmente em vigor, as pessoas não têm escolha a não ser recorrer à tecnologia para manter o trabalho e fazer de suas próprias casas o escritório.
Porém, o sistema de teletrabalho leva algum tempo para se ajustar as novas necessidades. Enquanto alguns desfrutam do aumento de tempo passado com suas famílias, outros lutam para fazer o ajuste: o coronavírus já virou motivo de divórcio em algumas famílias.
E à medida que casais discutem sobre seu futuro, aparentemente a cultura japonesa do hanko está numa encruzilhada semelhante: o selo hanko está falhando em funcionar como um dispositivo signatário no atual cenário de negócios online. A questão se tornou tão grave que o primeiro-ministro Shinzo Abe está considerando abertamente abandonar o selo historicamente essencial (e belo) por completo.
Selos Hanko no Japão
No Japão, os residentes não assinam documentos, mas usam um pequeno carimbo personalizado conhecido como hanko ou inkan. Esses pequenos selos personalizados são geralmente feitos de madeira ou plástico, embora haja versões mais sofisticadas feitas de pedra, metal e até marfim. Eles são gravados com o nome da pessoa e são sempre carimbados em tinta vermelha. No geral, os selos hanko funcionam da mesma forma que as assinaturas nos países ocidentais.
O hanko tem sido usado em toda a Ásia desde tempos imemoriais. O primeiro uso registrado no Japão ocorreu em 57 d.C. Naquela época, o círculo interno imperial usava selos de ouro maciço como marca de sua autoridade. A nobreza e os samurais seguiram o exemplo centenas de anos depois e começaram a usar selos personalizados para seus negócios. O uso geral pelo público japonês, no entanto, não ocorreu até o século XIX.
Atualmente, os hanko para nomes comuns estão disponíveis a preços extremamente baixos e até mesmo lojas de 100 ienes como a Daiso os vendem. Alguns podem ser comprados também em máquinas de venda automática por cerca de 500 ienes (US$ 5). Existem também versões especiais disponíveis, como as de Pokémon.
Por outro lado, os japoneses procuram selos gravados profissionalmente para ocasiões mais importantes. Conhecidos como jitsuin (実印), estes selos registrados oficialmente são usados para conduzir negócios e outros acordos vinculados juridicamente.
As dimensões e as especificidades do jitsuin são rigorosamente regulamentadas pela lei japonesa e, como tal, são consideradas oficiais e difíceis de falsificar. Embora estejam disponíveis por cerca de apenas US$ 20, a gravação profissional do jitsuin pode custar mais de US$ 100. Os japoneses geralmente usam um único jitsuin por décadas e só o substituem após eventos significativos na vida, como o divórcio.
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Proposta do governo Abe
No início de abril, o primeiro-ministro declarou estado de emergência. Embora a ordem tenha sido originalmente limitada a Tóquio e a seis outros distritos, mais tarde foi expandida para toda a nação. Depois, a ordem foi prorrogada por mais um mês.
A fim de ajudar as pessoas a ficarem em casa, a administração Abe está fazendo uma revisão do sistema hanko tradicional. A prática é particularmente onerosa durante a pandemia, pois é preciso visitar os escritórios administrativos para enviar qualquer documentação que requeira o selo. Se a reforma no sistema hanko for bem-sucedida, a alteração resultará em um aumento do uso de sistemas online.
Durante uma sessão do Conselho de Política Econômica e Fiscal, o Primeiro Ministro observou:
“Temos que revisar o sistema e seu funcionamento de maneira rápida e orientada ao usuário. Logo elaboraremos diretrizes para revisar as práticas de aplicação de selos e envio de documentos em papel como forma de promover o teletrabalho.”
Se o conselho conseguir, o teletrabalho provavelmente será significativamente acelerado. No entanto, em uma sociedade dolorosamente conservadora, haverá um preço alto em relegar uma parte da cultura antiga aos livros de história.
Fonte: Grape