Kofun, os misteriosos e antigos túmulos japoneses em forma de fechadura

Você já ouviu falar dos kofun? Os antigos túmulos japoneses que parecem uma pequena montanha e muitos dos quais com a peculiar forma de fechadura?

Quando se fala de civilizações antigas como a egípcia, a grega, a maia, etc., é comum que nos venha a mente suas contribuições arquitetônicas, pois é o que primeiro nos salta aos olhos.

Neste campo, temos exemplos magníficos de construções que homenageiam os mortos. Por exemplo, muitos já ouviram falar do Taj Mahal, que fica na Índia, mas poucos sabem que se trata de um mausoléu, isto é, um monumento funerário.

Taj Mahal, Índia, ícone da arquitetura funerária

No caso do Japão, os templos e santuários de certo são as construções mais conhecidas. Se hoje os mortos costumam ser cremados, no Japão antigo, antes da introdução do budismo, houve um tempo em que a construção de tumbas e mausoléus era uma prática comum, tal qual as civilizações supracitadas.

Um pouco do contexto histórico

O Japão possui um período histórico que ficou conhecido como período Kofun (250-538 d.C.). Este período é caracterizado pela formação do Estado japonês e possui este nome porque o costume de construir túmulos com um formato muito característico se estabeleceu e se difundiu enormemente.

Kofun (古墳) significa literalmente túmulo antigo, e o número de kofun construídos durante este período pelo arquipélago japonês chegou a um total aproximado de 80.000, segundo dados da Universidade de Osaka. Já o site da Unesco aponta um total aproximado de 160.000 construções.

O xintoísmo e sua influência

De acordo com o historiador José Yamashiro a concepção de mundo no início da formação do Estado japonês possuía um caráter bastante primitivo. A magia exercia forte influência sobre os ritos.

Ritos para apaziguar as ameaças da natureza. Rituais para os mortos. Agradecimentos relativos à colheita.

Mas, com o tempo, esses rituais e cerimônias foram organizados e disciplinados, santuários foram construídos e assim esse culto primitivo evoluiu até constituir-se no que hoje se conhece como xintoísmo.

Embora com altos e baixos ao longo da história, o xintoísmo jamais deixou de ser cultuado e foi dentro deste contexto religioso que a cultura kofun floresceu e atingiu seu ápice, tendo desaparecido no século VII, o que coincide, não por acaso, com a entrada do budismo no Japão.

A crença budista que coloca ênfase na transitoriedade da vida levou à proibição da construção dos kofun, em 646, pelo imperador Kōtoku, embora os plebeus e a elite de regiões periféricas tenham continuado a usar o kofun até o final do século VII, quando o costume da cremação finalmente se estabeleceu.


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Localização da maioria dos kofun na planície de Osaka

Grupo Mozu-Furuichi Kofun: Patrimônio Mundial da Humanidade

Localizada em um planalto acima da planície de Osaka, o grupo Mozu-Furuichi Kofun inclui 49 kofun. Tais túmulos eram para membros da elite. E esses kofun foram selecionados para se tornarem Patrimônio Mundial da Humanidade entre um total de 160.000 kofun no Japão por formarem a representação material mais rica do período Kofun.

Eles demonstram as diferenças nas classes sociais daquele período e mostram evidências de um sistema funerário altamente sofisticado. Nos túmulos de variações significativas de tamanho, os kofun assumem as formas de desenho geometricamente elaboradas de fechadura, concha, quadrado ou círculo.

Haniwa em forma de capacete escavado do Itasuke Kofun
Haniwa cilíndrico escavado do Zenizuka Kofun

Eles foram decorados com pedras de pavimentação e figuras de terracota, os haniwa, que nos dá valiosos indícios a respeito dos costumes e crenças da época. Os kofun demonstram conquistas técnicas excepcionais de construções em terra.

Nintoku-tenno-ryo Kofun

E aí, você já tinha ouvido falar dessas maravilhosas construções? De perto não é possível perceber seu desenho peculiar, mas a vista aérea, assim como as linhas de Nazca, no Peru, é espetacular.

Fontes: Universidade de Osaka, Unesco