A perfeição japonesa construída por meio da aceitação da imperfeição

A perfeição japonesa é uma das primeiras imagens que vem na cabeça de qualquer pessoa quando se fala do país. Pensamos na perfeição com os cuidados que os japoneses possuem em manter as ruas limpas, a perfeição com os estudos, a perfeição em se dedicar ao trabalho, a perfeição em fazer as mínimas tarefas do cotidiano entre tantas outra.

Entretanto, isso não acontece por acaso. Mas sim, por uma filosofia que atravessa os costumes no Japão. Essa é conhecida como wabi-sabi.

A história da busca da perfeição japonesa por meio da imperfeição

wabi-sabi é a observação da beleza da própria natureza, que possui inúmeras modificações. E, essas modificações, não estão sob o controle dos seres humanos, por mais que a ciência esteja desenvolvida.

Dessa maneira, os japoneses veem a beleza nessa constância de transformação. É a consciência da própria finitude e transitoriedade das coisas. Ou seja, é assumir que nada pode ser 100% controlado e que nunca será 100% perfeito, por mais que se queira.

As raízes dessa imperfeição japonesa

Essa filosofia possui como uma de suas raízes o zen budismo. Pois, nesta prática religiosa, acredita-se em uma certa ausência do eu e também onde se compreende e se aceita bem um certo desgaste que pode ocorrer, como envelhecer.

No zen budismo, o olhar para dentro de si não está na busca da verdade, mas em se compreender como parte deste mundo e em transformação. Não existe uma valorização especial nessa prática do budismo, assim como também não existe em admitir a imperfeição.


Leia também:


A cerimônia do chá e a perfeição japonesa

Quando se fala em wabi-sabi, uma das tradições que é preciso retomar, também, é a cerimônia do chá. Isso aconteceu também por influência do zen budismo. Mas, para entender essa história, precisamos voltar um pouco no tempo.

O monge Zen Murata Shukō (ou Jukō), que viveu de 1423-1502 foi um dos principais atores para a disseminação da cerimônia do chá como se conhece hoje em dia. Anteriormente, a cerimônia e o chá eram só para as pessoas de classe alta. Mas, o monge começou a usar instrumentos mais simples e também a reduzir os movimentos.

Essa foi uma das primeiras vezes que se olhou que a imperfeição também possuía a sua beleza. Como pode-se ver na imagem anterior, um copo de chá, mesmo que imperfeito, não deixa de ser belo. Além disso, essas transformações da cerimônia mostravam que nem todos poderiam comprar as louças caras, como também fazer movimentos extravagantes.

A perfeição japonesa e a imperfeição hoje

Um outro exemplo da busca pela perfeição no Japão pode ser como o da foto acima. Esses pinheiros estão em um luxuoso jardim privado em Karasaki.

Mas, por mais que os jardineiros tentem fazer com que eles cresçam de uma determinada maneira, sempre precisam fazer alguns ajustes. Isso acontece, porque jamais a natureza será previsível e controlável.

Ou seja, por mais que sempre se queira que uma árvore cresça de uma determinada maneira, isso será impossível. Ela sempre inacabada e não podemos prever os seus movimentos.

Os jardineiro japoneses não estão em uma luta com a árvore, ao contrário, tentam realçar a sua beleza diante de toda a sua imperfeição e por ser incontrolável.