A vergonha em ser um kamikaze sobrevivente e a alegria de estar vivo

Muitas histórias da II Guerra Mundial ainda são desconhecidas, inclusive a de qualquer kamikaze sobrevivente. Como se sabe, para a cultura japonesa não era fácil ser um kamikaze sobrevivente. Muitos sentiam vergonha de voltar vivos para suas casas.

A história de Ryozo Kotoge provavelmente vai te impressionar. Esse kamikaze, em pouco tempo, teve de passar pelas duas cidades que foram destruídas pelas bombas lançadas pelos Estados Unidos da América: Hiroshima e Nagasaki.

Conheça um pouco de sua história neste artigo e como ele não se deixou abalar pela vergonha de ter sobrevivido e segue convicto que o melhor caminho é sempre a paz.

Um kamikaze sobrevivente – Ryozo Kotoge

Ryozo Kotoge tinha apenas 17 anos quando recebeu as ordens para realizar a sua última missão: um ataque suicida. Pouco antes de embarcar, no dia 9 de agosto de 1945, viu de Isahaya, onde aguardava para embarcar, uma bomba ser lançada em Nagasaki, a cidade ao lado.

Era a segunda bomba atômica que os Estados Unidos da América lançavam no Japão para forçar a rendição. Imediatamente, milhares de pessoas morreram. Três dias antes deste acontecimento, a cidade de Hiroshima foi completamente devastada.

No dia seguinte, Kotoge recebeu a ordem final de que embarcaria às 4 horas da manhã. Achou que eram suas últimas horas vivos e já se preparava para a morte. Entretanto, ficou esperando que o caminhão do exército fosse buscá-lo para cumprir sua missão, mas ele nunca chegou.

Poucos dias depois, soube o que estava acontecendo. O Imperados havia decidido pela rendição do país. O Japão, que acreditava ser insuperável, perdia oficialmente a guerra e acumulava milhares de mortos e doentes em seu território por conta das bombas. Somava-se a esses, as perdas em batalhas e ataques suicidas.

Uma semana depois, Kotoge teve sua unidade encerrada e ele pode voltar par sua casa de trem. Mas, no meio do caminho teve de passar por Nagasaki e Hiroshima, onde viu a destruição das cidades e o desespero dos sobreviventes.

Segundo seu relato, os corpos eram empilhados, tacava-se combustível e em seguida fogo sobre eles. O cheiro que dominava a cidade de Hiroshima era de corpos queimados e em decomposição.

Uma imagem que qualquer pessoa jamais se esqueceria.


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A vergonha de ser um kamikaze sobrevivente

O relato de Ryozo Kotoge também revela dor de conseguir sobreviver e ter de encarar o sofrimento pelo qual os japoneses passaram nos anos seguintes. Mas, mesmo assim, se sentiu feliz em poder voltar a sua cidade.

O mesmo aconteceu com tantos outros soldados japoneses e até mesmo kamikazes. Alguns chegavam até mesmo a não aguentar e acabavam se suicidando por entenderem que fracassaram na defesa do país.

Os traumas da guerra e as lembranças perseguem Ryozo Kotoge até hoje. Com 92 anos de idade, relembra a morte de amigos e não deixa de falar como é importante não ter mais guerras.

Apesar de ainda guardar suas vestimentas de quando esteve na aeronáutica, sabe que elas só devem ser uma recordação de um momento terrível que nunca mais deveria acontecer.

Sempre que pode, o piloto sempre fala de suas experiências em uma tentativa de evitar que existam outras guerras.