A dificuldade para educar crianças brasileiras no Japão

As crianças brasileiras no Japão, bem como outras crianças estrangeiras no país, possuem uma grande dificuldade: o acesso à educação.

De acordo com o  Nippon.com, o Japão está negligenciando o bem-estar básico de suas crianças estrangeiras em idade escolar como consequência de políticas que não fornecem o suporte necessário adequado aos residentes não japoneses.

Dessa maneira, o país está negando a filhos de estrangeiros uma educação de qualidade adequada. E isso já está sendo até mesmo observado por pesquisadores da área da educação no país e tende a se tornar um problema de políticas públicas para imigrantes.

Educar crianças brasileiras no Japão não é fácil

Em setembro de 2019, um relatório do Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia (MEXT) publicou a primeira estimativa oficial do número de crianças fora da escola na comunidade internacional em rápido crescimento do Japão. Uma pesquisa nacional de conselhos locais de educação concluiu que até 20.000 crianças em idade de escolaridade obrigatória de nacionalidade não japonesa – quase uma em cada cinco do total – podem não estar recebendo educação escolar.

Esse número colocaria a comunidade internacional do Japão no mesmo patamar da África Subsaariana, a região do mundo com o maior número de crianças fora da escola no nível fundamental (de acordo com um relatório recente da UNESCO).

Como explicamos uma taxa tão baixa de frequência escolar entre crianças estrangeiras em idade escolar no Japão – um país industrialmente avançado conhecido por seus altos padrões acadêmicos?


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Provavelmente isso acontece porque, no Japão, os residentes não japoneses não têm obrigação de matricular as crianças sob seus cuidados em nenhuma escola. No entanto, se desejam matriculá-los em uma escola pública [de ensino fundamental ou médio], seus filhos têm direito à mesma educação gratuita oferecida aos estudantes japoneses, de acordo com os convênios internacionais sobre direitos humanos.

Entretanto, também há um impasse para os pais em tentarem realizar essas matriculas sem dominarem o idioma. Além disso, se torna mais difícil realizar essas matrículas se os pais pensam em retorna para o seu país natal algum dia. Ou seja, é muito provável que eles prefiram educar seus filhos em uma escola volta para alunos estrangeiros do que colocá-los em uma escola japonesa em que não terão contato com os conteúdos necessários para voltar para o seu país de origem.

Porém, as escolas no Japão voltadas a estrangeiros, além de caras, não são fiscalizadas constantemente. Ou seja, não há um controle tanto sobre a qualidade de ensino como também da própria estrutura.

Essas crianças estrangeiras acabam abandonadas pelo próprio governo do Japão. Por mais que seus pais paguem impostos e esteja trabalhando no país, a educação, em muitos casos, é algo que o governo não consegue retribuir para os estrangeiros.

Essa situação ficou escancarada em novembro de 2020, na época em que a terceira onda de infecções por COVID-19 atingiu o Japão. Na época uma dessas escolas étnicas se tornou o centro de um grande surto. A fonte da infecção parece ter sido trabalhadores não japoneses que foram obrigados a continuar se deslocando para o trabalho, já que sua situação de trabalho não permitia o teletrabalho. O vírus se espalhou para seus filhos e de lá para outros na escola. Mas as agências locais careciam de informações e mecanismos para intervir em tempo hábil.

Castigado por essa reviravolta, o governo central estabeleceu uma comissão para examinar a saúde e a higiene em escolas étnicas e internacionais. Uma pesquisa foi realizada e a comissão compilou um relatório destacando a séria lacuna entre a escolas japonesas e as escolas étnicas, que muitas vezes carecem de enfermarias e profissionais de saúde qualificados. Ainda assim, não houve acompanhamento voltado para proteger a saúde e a vida das crianças imigrantes, mesmo com a pandemia continuando.

Fonte: Nippon.com.