Imagine-se andando pelos corredores silenciosos de uma escola que já foi cheia de vida. Essa é a realidade de Eita Sato e Aoi Hoshi, os últimos graduados da Yumoto Junior High, uma escola rural de 76 anos no norte do Japão.
Com o fechamento da escola após sua formatura, uma história de tristeza e solidão se desenrola, refletindo a queda drástica na taxa de natalidade do país.
A consequência do declínio da natalidade
O problema não se limita ao Japão; países vizinhos como Coreia do Sul e China também enfrentam taxas de natalidade decrescentes. Porém, o Japão enfrenta uma situação especialmente crítica. Em 2022, os nascimentos caíram para menos de 800.000, um novo recorde, e oito anos antes do previsto. Essa realidade atinge duramente as escolas públicas menores, que são o coração das cidades e vilas rurais.
Cerca de 450 escolas fecham todos os anos, e quase 9.000 encerraram suas atividades entre 2002 e 2020. Isso torna difícil para áreas remotas atrair novos e jovens residentes.
As histórias por trás do fechamento
A vila de Ten-ei, localizada em uma área montanhosa de esqui e águas termais na província de Fukushima, já foi um lugar próspero com mais de 10.000 habitantes na década de 1950. No entanto, o declínio da agricultura e da manufatura e o crescente isolamento levaram as pessoas a deixarem a área. O desastre nuclear de Fukushima em 2011 agravou ainda mais a situação.
A escola Yumoto, no centro do distrito, tinha cerca de 50 formandos por ano durante seu auge na década de 1960. Agora, apenas duas fotos de Eita e Aoi enfeitam a entrada da escola.
Adaptação e amizade em tempos difíceis
Eita e Aoi, amigos desde os três anos, tiveram que se adaptar à nova realidade. Eles se sentavam lado a lado em uma sala de aula projetada para 20 alunos e, apesar das brigas iniciais, encontraram uma amizade duradoura. Juntos, eles tentaram simular uma experiência escolar normal, escolhendo tênis de mesa como atividade extracurricular.
Especialistas alertam que o fechamento de escolas rurais aumentará as disparidades nacionais e colocará áreas remotas sob mais pressão. Aoi, que sonha em ser professora de creche, diz: “Não sei se haverá crianças na vila quando eu for professora, mas se houver, eu quero voltar.”
O futuro das escolas rurais e comunidades afetadas
O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, prometeu tomar medidas sem precedentes para aumentar a taxa de natalidade, incluindo dobrar o orçamento para políticas relacionadas à criança. No entanto, pouca ajuda foi efetiva até o momento. As comunidades rurais enfrentam o desafio de manter as escolas e atrair novas famílias, mesmo quando o número de crianças diminui.
A mãe de Eita, Masumi, expressa sua preocupação: “Estou preocupada que as pessoas não considerem esta área como um lugar para se mudar para começar uma família se não houver uma escola secundária”. O fechamento da escola tem um impacto significativo no tecido social e na cultura da comunidade.
Reaproveitando prédios de escolas fechadas
Em resposta ao fechamento de escolas, algumas comunidades têm buscado maneiras criativas de reaproveitar os prédios. No Japão, escolas fechadas foram transformadas em vinícolas e museus de arte. Ten-ei, por sua vez, discutirá possíveis usos para o prédio da escola Yumoto.
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O fechamento de escolas rurais no Japão é um reflexo preocupante da queda na taxa de natalidade e das mudanças demográficas e socioeconômicas nas áreas rurais. A história de Eita e Aoi é apenas um exemplo das muitas vidas afetadas por essas mudanças. Para garantir um futuro sustentável para as comunidades rurais, é crucial encontrar soluções inovadoras para enfrentar os desafios apresentados pelo declínio da população e o fechamento das escolas.
Fonte e fotos: Reuters