Por que frutas e vegetais no Japão custam tão caro?

Mesmo que você não more no Japão, já deve ter ouvido falar que produtos frescos, como frutas e vegetais em geral, custam caro por lá.

Muitos defendem que o poder de compra no japonês é muito maior que o do brasileiro, por isso não se deve comparar valores absolutos.

No entanto, não é exatamente sobre isso que se trata este post. Continue lendo, e entenda um pouco como funciona o mercado destes produtos no Japão e alguns dos motivos que explicam o porquê de preços tão altos.

O preço das frutas e vegetais frescos no Japão pode chocar alguns. No caso das frutas, é comum ouvir as pessoas dizerem que isso ocorre porque há muito cuidado no cultivo de cada fruta. Histórias emocionantes de fazendeiros polindo à mão uma a uma de suas frutas são comumente contadas para justificar o preço exorbitante das frutas produzidas no país. Há também os leilões de frutas super doces e de qualidade ímpar, colhidas no ponto de serem consumidas, tão luxuosas que as pessoas compram para dar de presente. Em que país se ouve histórias sobre frutas sendo dadas como presente?

Enfim, para frutas há muitas justificativas, mas o que dizer dos humildes vegetais do dia a dia como batatas, cenouras e tomates?

Os preços no supermercado

Em um supermercado, um pequeno saco de batatas custa em média 297* ienes, excluindo impostos. Duas cenouras custam 197 ienes, e os tomates custam 117 ienes cada. Claro que estes valores variam de lugar para lugar, mercado para mercado e, principalmente, da distância entre local de produção e local de venda.

*Lembre-se que 100 ienes equivale a aproximadamente 1 dólar.

Embora não queiramos fazer comparações entre um país e outro fazendo conversões simples, talvez seja interessante fazê-la mesmo assim para termos um parâmetro. Para sermos justos, usaremos como exemplo o Reino Unido que, assim como o Japão, é uma pequena nação insular com poucos agricultores e uma população predominantemente urbana, além de ter um bom poder de compra. Pois bem, os preços são menos da metade dos preços praticados no Japão.

Analisando o site da gigante de supermercados Tesco, um pequeno saco de batatas cultivado em Kent custa o equivalente a 140 ienes, um quilo inteiro de cenouras Devon custa apenas 70 ienes e cinco tomates são 130 ienes (e todos esses preços incluem impostos).

A produção anual de vegetais do Japão x Reino Unido

Em 2016, o valor dos vegetais produzidos no Japão foi estimado em US$ 22,9 bilhões. Compare isso com o valor dos vegetais produzidos no Reino Unido: US$ 1,89, em 2017. Você pode ver que, mesmo considerando o fato de que a população do Japão é cerca do dobro da do Reino Unido, o valor é 12 vezes maior.

Por que a discrepância de preços? Até certo ponto, a culpa recai sobre compradores exigentes.

Quando os agricultores japoneses estão preparando suas colheitas para a venda, eles sabem que apenas os itens mais bonitos serão distribuídos nos supermercados. Uma batata deformada ou um tomate ligeiramente descolorido serão comidos pela família do agricultor ou jogados fora. Além de desperdiçar, isso torna os vegetais mais valiosos do que deveriam e, portanto, mais caros. Sem falar que tudo é embalado em plástico e poucos são os lugares que vende a granel.

O fator terras cultiváveis

Outro fator a ter em mente é que o Japão não possui muitas terras agrícolas. Apenas 12% da terra é usada para o cultivo, e a maior parte é usada para a produção de arroz. O fator mais importante, no entanto, é que as fazendas japonesas são muito menores do que as de outros países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Segundo estatísticas do governo, o tamanho médio de uma fazenda japonesa é de apenas 1,9 hectares, comparado aos 198 hectares dos Estados Unidos. As pequenas fazendas são menos eficientes do que as grandes, e os pequenos agricultores têm menos dinheiro para investir nas máquinas necessárias para reduzir os custos.

Ironicamente, a predominância de pequenas fazendas é atribuída aos americanos. Após a Segunda Guerra Mundial, o governo dos EUA ocupou o Japão por sete anos. Durante este período, foram tomadas várias medidas radicais para desmantelar o que eles viam como impedimentos estruturais para a criação de uma sociedade democrática.

Um deles foi um programa de reforma agrária que viu as grandes e antigas propriedades feudais divididas e distribuídas a milhões de pequenos agricultores.


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Até hoje, a lei japonesa estipula que todas as terras agrícolas devem ser trabalhadas diretamente por quem as possui. Isso pode tornar o Japão uma sociedade mais justa, e isto certamente é um fator muito importante a ser levado em consideração, mas também torna sua agricultura muito menos eficiente e seus produtos agrícolas mais caros.

No entanto, tanto os agricultores quanto o partido dominante gostam disso. Embora a agricultura represente pouco mais de 1% do PIB do Japão, e os agricultores representem apenas 3,4% da população, mapas eleitorais desatualizados e organização efetiva por parte dos agricultores dão às comunidades rurais japonesas um poder político desproporcional.

Pequenos agricultores são fortes defensores do PDL (Partido Liberal Democrata) desde que o partido foi criado em 1955, e o lobby dos agricultores é um dos mais poderosos do Japão. Todo este poderio deveria se traduzir em mais investimentos para uma maior eficiência na produção, não é mesmo?

E o que acham os consumidores?

Por outro lado, surpreendentemente, os compradores também gostam do status quo. De acordo com uma pesquisa da Yomiuri Shimbun realizada em 2011, 80% dos eleitores acham que o governo deveria subsidiar pessoas envolvidas na agricultura pela primeira vez. Os compradores apoiam a agricultura subsidiada porque são incentivados a acreditar que os produtos agrícolas do Japão são os melhores do mundo e que essa qualidade tem um preço.

A preferência por vegetais produzidos localmente sobre vegetais importados é forte entre os consumidores do Japão. A mesma pesquisa da Yomiuri constatou que, enquanto 46% dos compradores acreditam que os produtos agrícolas estrangeiros são menos caros que os japoneses, 76% também acreditam que não é seguro.

O modo de vida rural no coração da cultura japonesa tradicional é sustentado por urbanos felizes em pagar alto por batatas, cenouras e tomates. E a explicação para essa reverência aos agricultores talvez venha da longa tradição japonesa em colocá-los em um dos mais altos patamares sociais devido a sua contribuição para a sociedade.

Seja como for, a agricultura japonesa é uma proposta insustentável. Como em muitas coisas no Japão, a demografia é a maior responsável. A idade média de um agricultor japonês é de 65 anos e está subindo. Sem ninguém disposto a assumir o controle de suas fazendas quando morrerem, a agricultura japonesa chegará em breve a um ponto crítico. Em 1961, o país produzia 78% de todos os alimentos que consumia. Em 2006, esse número havia caído para 39%. E a tendência para o futuro é que continue a cair se providências eficazes não forem tomadas.

Fonte: Grape