Em Tóquio, o músico Kauan Okamoto compartilhou sua história de abuso sexual quando tinha apenas 15 anos. Ele afirma ter sido vítima de Johnny Kitagawa, uma figura poderosa do mundo do entretenimento japonês.
Kauan fez parte do grupo Johnny’s Jr., que servia como reserva de talentos para a agência Johnny & Associates, responsável por gerenciar atores e cantores masculinos.
Abusos ocorreram na casa de Kitagawa
Segundo Okamoto, o abuso acontecia na residência luxuosa de Kitagawa. Quando o empresário dizia a um dos meninos para ir dormir cedo, todos sabiam que seria “a sua vez”. Os abusos começaram em 2012 e duraram quatro anos, até Kauan deixar a Johnny & Associates.
Kauan lembra do som das pantufas de Kitagawa no corredor. Ele fingia dormir e, às vezes, recebia uma nota de 10.000 ienes (cerca de 100 dólares) no dia seguinte, quando ninguém estava olhando. O cantor brasileiro estima que dezenas de pessoas foram selecionadas por Kitagawa como seus “favoritos” e convidados a ficar em sua casa, onde ocorriam os abusos.
O escândalo veio à tona após o documentário da BBC “Predator”, exibido em março, no qual várias vítimas denunciaram o empresário. Kitagawa faleceu em 2019 e nunca foi acusado. A revista japonesa Shukan Bunshun foi a primeira a relatar o escândalo em 1999.
Apesar do relato de Kauan, a reação da sociedade japonesa tem sido discreta. A Johnny’s, que ainda existe como empresa, está por trás de algumas das maiores estrelas do Japão, incluindo SMAP, KinKi Kids e Arashi.
Okamoto afirma não ter considerado ações legais, mas espera que sua história seja reconhecida.
“São fatos. Em vez de negar esses fatos, espero que as pessoas nos respeitem e apoiem”, disse ele aos repórteres.
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O Clube dos Correspondentes Estrangeiros convidou a Johnny’s para falar sobre as alegações, mas não obteve resposta. A empresa também não respondeu ao pedido de comentário da imprensa.
Kauan mencionou que ser favorecido por Kitagawa era fundamental para alcançar sucesso no mundo do entretenimento japonês. O cantor brasileiro admitiu que deve muito ao empresário, a quem chamava de “Johnny-san”, sempre acrescentando o honorífico.
Como muitas outras vítimas, Kauan não contou aos pais nem rejeitou abertamente Kitagawa, mas espera que, ao compartilhar sua história, outras pessoas possam se sentir encorajadas a fazer o mesmo.
Fonte: AP